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Nei Duclós
Como não te amar, se a doçura ressuscita em ti?
Como adiar esta paixão, se já perdi mais de uma vida?
Como evitar o amanhecer da noite aflita?
Como não falar em poesia, se me devolves o sentido?
Por que tornar ao limbo o que nos falta de delírio?
Chamam romantismo o que é apenas viço,
quando assomas feita seda e vinho,
núcleo de um poder que me redime.
E basta um copo de cristal sobre o linho
para que esqueçamos tudo.
Entrego esse amor ao seu destino.
Não vou interferir com minha sina.
Confio no abrigo da pele nua.
Decido te cercar, mesmo contra o vento.
Atraio o extremo amor que se aproxima.
Como não te amar, vésper e orquídea,
Apesar da escuridão e do vazio?
Colho o fruto que cresceu oculto
e sinto a sede que me torna intruso
na tua sombra vazada de perfume.
Impossível este amor que não recuso,
esta danação na sintonia,
estas asas borradas pelo abismo.
RETORNO - Paisagem (1919), de Anita Malfatti, ilustra este poema inédito. Arte é uma opção para quem se sente exausto de tanta guerra.
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