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18 de novembro de 2005
O MELHOR DA AMÉRICA
O que os Estados Unidos têm de melhor? Aqueles filmes clássicos, de John Ford a Nick Ray, e a gestão intenacional da Internet. Imaginem a rede de computadores cair na mão de um gestor Brasil, com plenos poderes. Haverá censura e aumento draconiano de preços. O melhor da América é também seu Judiciário, que não teme presidentes da República, e parte de seus jornalistas, que investigam mesmo e não fazem como aqui, em que dúzias de repórteres foram atrás do Eduardo Suplicy para reportar o óbvio: arranjar novas testemunhas para o caso Celso Daniel. É humilhante para a imprensa omissa e preguiçosa (que se limita a reproduzir dossiês) que alguém, a pé pela rua onde ocorreu o assassinato, tenha identificado gente que estava pronta para decifrar o crime. Dezenas de microfones iam para cima do senador. E depois chamam o Suplicy de songa monga, de paradão e pancada. É uma pessoa de coragem, apesar de adorar a mídia. Com a gestão isenta americana, é possível hoje fazer jornalismo na Internet, o que seria impossível se os espertalhões de sempre dominassem este espaço construído com diversidade e despreendimento, janela aberta para nosa livrar um pouco do sufoco.
TESOURO - Ontem, a novela Bang Bang tentou imitar outra coisa que os americanos tem de melhor: os grandes musicais. Dançar numa rua do faroeste apenas mostra a falta de soluções para esta novela, que seria uma boa idéia se houvesse alguma coisa nela, a não ser uma descostura permanente protagonizada por nomes como Yoko, Locomotive ou Ben. Nunca o faoroeste foi tanto desperdício. Já que chupam tanto, porque não copiam o magistral Sergio Leone que em o Feio, o Mau e o Bruto, com Clint Eastwood e Eli Wallach, tece a trama ao redor de um tesouro escondido num gigantesco cemitério, do qual um dos pistoleiros sabe onde fica, e o outro, o número da cova onde foi enterrado o dinheiro (o que cria um conflito permanente, de grande carga dramática, pois um não pode matar o outro, sob pena de perder a bufunfa)? Daria um pouco de sal à trama, fora daqueles picuinhas onde se sobressai o tesão da Marisa Orth, a viadagem de Sidney Magal e os dois travecos inverossímeis. Mauro Mendonça, mais um que se acha um grande ator, não passa de bochechas barbudas metido a valentão. A modelinho que faz a mocinha é de uma pobreza dramatúrgica de dar dó. No fundo, copiam o que há de pior na América, como se o Império só tivesse gerado porcarias. Os italianos, com seu faroeste macarrônico, fizeram uma versão barroca do faroeste, fundada no exagero, que extrapolou os limites do gênero e colocou-o nas águas da arte medieval popular, aquela que ia de cidade em cidade com seu aparato circense para divertir e denunciar a platéia. Clint se fez na Italia e voltou para criar, na sua América, filmes magníficos que o tornam um dos maiores cineastas vivos, apesar de bobagens e patriotadas como aquele faroeste do cosmos.
CABEÇA - Bill Clinton tem culpa de todas as suas ações imperais nos oito anos que esteve no governo, mas não há dúvida de que se trata de uma grande cabeça. Toda vez que o vejo e ouço numa entrevista, fico impressionado. Acho que ele, no poder, não optou pelo que tinha de melhor, essa lucidez up-to-date. Talvez estivesse de mãos amarradas ou é possível que esteja aprisionado pelo círculo de giz da América, aquele reduto poderoso do imaginário que não deixa ninguém escapar das garras imperiais. Mas, comparem com o Bush, esse tosco e falso estadista que pôs fogo no mundo. Bush é o pior da América e está pagando caro pelos seus erros. Torcemos pelo impeachment e a volta de pessoas esclarecidas na Casa Branca, como tivemos com Jimmy Carter, apesar dos pesares. Carter está em todas as boas causas e foi responsável, no Brasil, pelo fim da fase mais terrível da ditadura. O que não podemos ter é uma Condoleeza Rice, que agora está sendo elogiada como grande negociadora internacional. É conivente com o massacre do mundo, portanto deve ficar de fora. Precisamos do humanismo letrado, limitado pelo que resta de ética nas relações internacionais.
PAZ - Utopia? Depois de Bush, temos o direito de sonhar. Aumenta o risco de guerra na América Latina, com esse Chávez pontificando, essa Colômbia conflagrada, essa Amazônia invadida. Precisamos de paz no continente. Para isso, contamos com o que a América tem de melhor.
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