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5 de julho de 2004
INDEPENDENTE DE QUALQUER COISA
Claudio Levitan é um espírito livre. Compôs 12 canções que formam A Longa Milonga, cd independente de qualquer coisa, como diz na ficha técnica. É o resgate de uma tragédia familiar e política, o massacre de 2.000 judeus lituanos em 1941, entre eles muitos parentes do autor, todos moradores da cidade de Keidânia. É uma abordagem às próprias raízes musicais, pois seu pai e seu tio, gêmeos, faziam a fusão da riquíssima herança de canções e ritmos da música klezmer (como somos informados no belíssimo encarte do cd) com o ambiente de sons que encontraram na chegada ao Brasil, quando ainda eram crianças. É um exercício de reencarnação litúrgica, com uma dramaturgia mestiça entre as romanças populares dos payadores do pampa e a anarquia cultural trazida da Europa antes que fosse destruída pelas guerras.
ORIGINALIDADE - O trabalho é do ano 2000. Chego, portanto, tardiamente à obra deste amigo que foi fundamental para eu não só estrear em livro, mas pensar a poesia e a literatura de maneira mais conseqüente, ou seja, fora do circuito pessoal e dentro do insensato mundo das idéias que geram projetos e produtos. Foi Levitan que foi até minha casa em Blumenau para conhecer melhor meus poemas, pois tinha lido alguns e não estava satisfeito. E foi ele quem armou junto com o Caio Fernando Abreu e o Juarez Fonseca a viabilização dessa estréia, que é meu livro Outubro, luz da minha vida e da minha geração. Longe daqui, no ruído paulistano, não consegui chegar até A Longa Milonga. Agora sentei ao lado da voz de Levitan, dos seus instrumentos (banjo-bandolim, violino e violão) e dos seus companheiros nesta obra, como o arranjador e co-produtor Arthur de Faria e o produtor Fernando Pezão. Quem nos leva pela mão é a poesia de Levitan:o rio incerto de lágrimas rumo ao deserto, a aflição pela falta de luto, os sinos que batem em vão, a vida sempre incompleta a qualquer momento, o orvalho vermelho do sangue espesso, a incerteza entre a dor maior, se a da morte ou a da memória. Tudo isso numa orginalidade definida como brutal pelo arranjador Faria, onde, nas suas palavras, as arestas e pontas da música de Levitan dão?se ao luxo de insuspeitas simetrias. Faria pegou bem o perfil criativo de Levitan: ele trabalha em espirais, com esferas que nunca se encontram, mas que vistas de longe, no espaço e no tempo, e mesmo frontalmente, cara a cara, revelam o espírito completo da liberdade bem resolvida. Num poema que dediquei a ele, e que, claro, está em Outubro, disse que a linguagem é a única arma que dispomos. Levitan prefere todas. É poeta, compositor, arquiteto, desenhista. E uma alma gentil como poucas, um trato fino, de educação espiritual que foi uma chama firme e forte em longo tempo de trevas e que agora, como sempre, brilha para nos impulsionar para novas vidas. Que este cd seja pouco conhecido é um desperdício cultural.
PORTUGAL - Nosso correspondente em Portugal, Miguel Dias, escreve a seguinte mensagem: " Portugal? no final!Pois é, gente, um mês se passou nesta minha visita pelas terras lusitanas. Um mês de céu azul, algumas nuvens quando do Santo Antônio e alguns pingos de chuva que nem sequer vi. Disseram-me várias pessoas que o verão aqui é assim: não chove. O ar daqui é muito seco; sinto-o na pele que exige mais e mais hidratante e o nariz fica ressecado. Em Santiago, no Chile, é assim também. Nosso país é que é bem húmido. Não vi mosquitos(pernilongos) por aqui; creio que é o preço que pagamos por nosso clima maravilhoso, pois, segundo os próprios, no inverno o portugueses são tristes. Certamente daí o fado; ou estarei enganado? Hoje, após a derrota de ontem frente à muralha grega, o dia amanheceu calmo por aqui. À noite, alguns insistentes ainda quiseram reviver clima de festa, mas parece que não colou. As bandeiras permanecem às janelas e nos veículos. Foi um mês de festa que, coincidentemente acompanhei. Algumas praias com água geladíssima; mergulho rápido e, ao sair, aquele calor da reação ao frio. Já penso em voltar às terras brasis, apesar do frio que, sei, vou encontrar pelo sul. Frio e calor, pois sei o quanto meu povo é quente, mesmo quando faz frio. Vamos com o Gonzaguinha: ?Sei que a vida podia ser bem melhor e será, mas isto não impede que eu repita: É bonita! É bonita e é bonita!"
BANCOS - A fila de banco é a fila da ditadura. Pessoas detonadas aglomeram-se agarradas aos seus trocos para pagar tributos, principalmente telefone, essa nova taxa absurda que nos impõem depois que privatizaram tudo. Paciência forçada, de pessoas tristes porque escravas do arrocho financeiro nacional e internacional. Como puderam privatizar serviços? Os serviços usam a infra-estrutura paga pelo povo, não gera produtos e envia lucros para o Exterior o tempo todo. Todo mundo com cara de fazer o quê.
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