5 de novembro de 2018

O BARCO NA SARJETA

Nei Duclós


O poema confessional é de autoria de personagens ocultos, que o autor cria ou invoca. São múltiplas personalidades lendárias a navegar nos versos reunidos sob um mesmo nome real. Elas se encaixam nas percepções variadas de quem lê, contesta ou se identifica.

Depois de jogar seu barco de papel na correnteza feita pela chuva na sarjeta, o poeta, garoto, se recolhe. E se perguntam pelos versos ele sacode os ombros. Diz que não é com ele. Escapa assim pelas reticências...

Ninguém pode se decepcionar quando insiste em ver as asas de um anjo que não existe. Que não é alegre nem triste, como diz Cecília Meireles. É só poesia, e isso é tudo.



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