5 de junho de 2016

SABOR DO TEMPO



Nei Duclós

A palavra fareja a memória
e desenterra seu osso
água rasa até o pescoço
roupa cerzida no sótão

Sabor que o tempo alimenta
arqueologia da fome
vida em camadas que some
pendurada nas lembranças

O som das falas sem rosto
assombram as despedidas
anjos tocam de ouvido
as sonatas da família

Sobrevive em teu caderno
riscos de parede nua
vislumbre de viagens frias
em janelas de armistício

É o silvo dos minutos
trilhados sobre o abismo
nada persiste em Saturno
deus do remorso bruto

RETORNO - Imagem desta edição: obra de Sir Augustus Wall Calcott

Nenhum comentário:

Postar um comentário