Assisti no Netflix toda a quarta temporada da série Suits,
criada por Aaron Korsh. com os excelentes Gabriel Macht, Patrick
J. Adams, Meghan Markle e Sarah Rafferty. Lá
fui eu alegremente curtir a continuidade das peripécias da empresa de advocacia
de alto coturno nos últimos andares dos edifícios mais poderosos de Manhattan,
eixo do sistema econômico do primeiro mundo, uma aula de pragmatismo por meio
do diálogo, onde a lei se submete à arte de mistificação nas negociações entre
empresários, investidores, banqueiros, advogados, juízes, conselheiros e fiscais
do governo.
Sempre achei divertido o repasse célere de pastas azuis no
cenário iluminado, contendo as soluções mais articuladas, bizarras e
surpreendentes que acabam virando mil vezes por dia o jogo que era de cartas
marcadas. Sempre gostei dos amores entre personagens que sugerem intensa
especialização naquilo que fazem e oscilam entre o o sexo casual e o
relacionamento duradouro. É um ambiente de extrema competição, onde não se poupa
ninguém e as carnes e estômagos estão expostos em ações que são o puro uso
maroto da palavra, que prepara armadilhas e oferece rumos inéditos para
transações que envolvem milhões e até bilhões de dólares. Os americanos sabem
como convencer que estão dominando o assunto, mas como todas, a série é um jogo
ilusionista que oferece o carisma do pôquer mas curte mesmo é um confronto
bruto de forças variadas.
Pois, como dizia, tudo isso era muito divertido pois
entramos no clima sabendo que estamos sendo enganados, mas admiramos essa
exposição de como o mundo dos negócios deve funcionar. Certamente é algo ainda
mais bruto na realidade, mas a indústria audiovisual precisa manter as
aparências e oferecer qualidade sem tropeçar no catequismo ou no cinismo puro e
simples. Só que a temporada 4 é uma devastação de toda a história. O que havia
de competição virou ódio intenso, vingança e as pessoas se destroem com seus
segredos e cobranças, mostrando o lado mais sinistro de vidas reveladas vazias.
O que era charme vira pesadelo e seguimos os passos do novo
vilão Louis Litt, que descobre o segredo do escritório e chantageia a tudo e a
todos, roubando clientes do carismático Harvey Specter e torturando sua vítima
favorita, Mike Ross, o gênio que fraudou um diploma de Harvard, e gritando com
sua ex-chefe, Jessica, que cede às chantagens do amante e o contrata para tê-lo
por perto. Vemos como a autoridade decai e o caos emocional e moral toma conta
de salas e corredores, como um casal se esbagaça no ciúme e como uma relação
em compasso de espera se transforma numa brutal desesperança.
Não se trata de humanizar os personagens, mas de
destrui-los. O mundo que manipulavam tão bem acabam com a relação entre
eles e só resta a superficialidade, o fim da amizade ou do amor e a luta pela
sobrevivência a qualquer preço. Em troca de que? Ninguém quer abrir mão de suas
posições e todos rolam pelo abismo agarrados aos seus erros e esperanças
devastadas.
Um assombro de espetáculo. A série mais foda da atualidade.
RETORNO - Imagem desta edição: Louis Litt chantageia Harvey Specter. Nota: num post anterior, errei ao colocar Temporada 5. É a temporada 4, como está aqui. Obrigado ao amigo que me alertou do erro.