15 de setembro de 2015

POEMAS CARIOCAS



Escritos de 1 a 14 de setembro, durante a Bienal do Livro do Rio de Janeiro.


Nei Duclós

Estou anônimo
nesta ancestral cidade
longo rebanho
pedras da Gávea

*

Em algum recanto sagrado
Mora o mistério do Rio
Lua cheia do passado
Sol que o amor descobriu

Sou só o viajante perdido
Que o diário reescreveu
O mapa da tempestade
Guardarei a sete chaves

*

O vento vai
Da montanha ao mar
Leva sinais
Para os navios
Tremulam as bandeiras
No convés
A guerra chega ao fim
Onde estarás?

*

No amor se diz a verdade
Eu não te amo, por exemplo
marca notória do coração
que exige tudo

*

Tirou-me de si
como se deposita
um casaco na cadeira
Quer apenas que vejam
a inutilidade do amor
quando é sincero

*

Nós o povo

Habitar o espírito desarmado
com a palavra
Dizer em voz alta
fora do ruído que esvazia

Subjugar o discurso
com o poder da poesia
sem tirar partido

Ter motivo
Como os heróis anônimos
que possuem apenas
o ânimo de ocupar lugar
no front
sem passar recibo

*

Sou poeta solar
Nasço a leste
Do teu olhar
Onde a lua esconde
Uma flor

*

Soprei o verso
na imaginação do anjo
Sou poeta!
disse o pássaro
estranho

*

Você só tem força
se for aceito
Se te rejeitam
és fraco
É uma questão de escolha
ou vais para o fundo do poço
ou voas
O que prende ou liberta
é o vínculo com as pessoas
não teu perfil de atleta

*

Já li todos os teus posts.
Nenhuma pista do teu amor.
Não posso curtir
quando não estou
nem compartilhar
o que acabou

*

Não estou apto
a ser o teu destino
Marcas de sapato
naufrágios sem arrimo

*

Torço teu retrato
até pingar o sonho
Toalha pelo joelho
flor atrás da orelha

*

Tens o perfil de esfinge
em teus exercícios
Quem te segue
se submete ao enigma
Menos eu
que ao te imaginar
me decifras


RETORNO - Imagem desta edição: foto de Nei Duclós.




















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