8 de abril de 2013

ESTILHAÇO



Nei Duclós

 Uma pedra no vitral do poema
 cada estilhaço deixa de ser sílaba
 é um verso completo, independente sítio
 fora da lata do lixo, ocupa ranhuras no piso,
 fio de corte no pé distraído

 Mulher descalça cruza o vestíbulo
 um vento vem do bosque, transparência
 promovida pelo estilingue
 friagem na reposição de poesia
 que o impacto inaugura à luz oblíqua

 Crio futuros com a luz refletida
 em cacos dispostos no chão duro
 Recito o que desvirtua nessa obra
 dobrada sobre si, o encanto de narciso
 imã de noites não dormidas

 Por isso me atiro na parede lisa
 comunhão invasiva que vibra
 em teus inúmeros vestidos
 Quebro a cortina, cubro o corpo
 com ruídos na noite de vime


RETORNO – Imagem desta edição: obra de Van Gogh.