23 de abril de 2011

DEPOIS DO FIM


Nei Duclós

remorso rói até o osso
deixa o vazio de troco
no reboco o desespero
louco caiado de branco

soluço seco no forro
vida longa se consome
lucidez que não dá sopa
brinde secreto do tempo

não se trata de lembrança
somos o que esquecemos
nem de memória ou infância
fomos o que não vimos

mas de uma torpe presença
morcego preso no teto
corredor de badulaque
ruinas de antigo vício

solidão sem esperança
comboio solto na curva
apito que não compensa
coração aos solavancos

sem reparação de danos
descemos no fim da linha
estação do desencontro
cartas de despedida

(Já estive no teu olhar
Depois vim morar no exílio
Faz frio, musa
Joga tua blusa no rio)



RETORNO - Imagem desta edição: Esquina, obra de Ricky Bols.