

Vimos recentemente em Copenhague os países gastarem milhões num encontro pífio, para discutir se vão diminuir em merreca por cento as emissões de gás venenoso até 3.050. Agora que o Haiti está aos pedaços, com cenas que parecem a rotina brasileira de destruição provocada pelas enchentes, com idênticas quedas de barracos em morros e gente desesperada chorando, os estadistas pedem “orações” para o que é considerado uma fatalidade. Quem pede orações é o povo, os estadistas deveriam agir.
É um crime que ainda o mundo mantenha apenas organizações humanitárias como a Cruz Vermelha quando deveria ter em prontidão forças internacionais especializadas em catástrofes, não apenas para socorrer vítimas, mas para colocar a casa em ordem e isso inclui todas as engenharias, da ambiental à habitacional. Forças que no segundo seguinte ao terremoto possam se deslocar sem burocracia, celeremente, para o epicentro da tragédia e organize o caos, em vez de ficar dependendo de celulares e twitter para saber o que se passa e só então, depois de oferecer ajuda, chegue com seus cães amestrados para farejar cadáveres.
Passou da hora, inclusive, de reformular todos os conceitos obsoletos de moradias. Até quando veremos o concreto matando em terremotos? Até o ano 3050? Qual seria a solução? Sei lá. Para que servem os cientistas, os técnicos, os especialistas? Para que servem os políticos, os conselheiros, a sociedade civil ou militar? No meio do pesadelo haitiano, já existem quatro militares brasileiros mortos por lá. Os 1.300 soldados nossos que estão lá para "manter a paz" correm risco ou correram risco de vida.
Um parêntese: risco de vida é resultado de uma elipse. Vem de “risco de morrer” ou “risco de perder a vida” ou, por elipse, “risco de vida”. A elipse é uma figura de linguagem, mas como não existe mais ensino da gramática, apenas aplicações de regras sem-vergonhas do acordo ortográfico, então temos de aturar os seguradores de microfones falando em risco de morte, que por elipse seria “risco de perder a morte”, o que é uma asneira e um contrasenso.
Falando em tragédia, vivemos um momento complicado no Brasil. O petismo, a esquerda que a direita gosta, acaba de dar munição para a ressurreição do lacerdismo, aquela paranóia política sacana e vivandeira de quartel que acusa as oposição de “comunizar o Brasil”. Recebi um e-mail anônimo e desaforado me ameaçando, dizendo que o Lula iria calar minha boca e nem blog mais eu teria devido ao famigerado decreto dos Direitos Humanos. Pouco me importa, vivi sob censura a vida inteira. Decidi abrir a boca, mas agora todos resolveram gritar, então tenho me calado, o ruído está muito intenso.
Na maré alta da sacanagem pontifica essa figura fake do blogueiro de ultra-direita, que escreve o que a exaustão popular quer ouvir. É o velho canto de sereia. Trata-se de um sujeito sinistro e perigoso que se dedica 24 horas por dia para atacar fantasmas e gerar um clima de terror, uma postura historicamente comprovada que deságua em ditaduras, como aconteceu em 1964. É o novo Boris Casoy. Todos adoram até descobrir algum esqueleto carnoso no armário.
Soube da história de um deles quando o agora festejado escriba trabalhava numa editora alternativa, antes de um monopólio devorar a publicação e assim impedir que surgisse um novo concorrente. O diretor de redação foi demitido depois de uma onda de calúnias originada dentro da empresa. No seu lugar, entrou alguém que gozava de confiança do diretor demitido. O próprio.
Portanto, leia com atenção, antes de se identificar com a algaravia da sedução ultra-direitista. O petismo deve ser apeado do poder por meio de eleições limpas e não por acusações de comunização e outras asneiras. No dia em que o PT tiver comunistas, a TFP terá trotskistas.
RETORNO - Imagens desta edição: na primeira, a menina no terremoto do Haiti; na de baixo, a menina nas enchentes do Brasil.
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