25 de novembro de 2009

PALAVRAS FORMATAM UM PARADIGMA


Para trafegar impunemente pela chamada comunicação, é preciso submter-se a um consenso formado pelo círculo de palavras aceitas e que são voláteis, pois quando elas se cristalizam, em seguida outras são jogadas na roda para que os emissores vocabulares possam manter o ar cool e exclusivo de quem forma opinião. Como cansei dessa turma, vou elencar algumas palavras que, me parecem, fazem parte do atual paradigma.

FORTEMENTE - Serve para cimentar opiniões quebradiças. Se você diz que Lula está fortemente implementando uma política externa independente, você mascara a realidade, pois a política externa independente faz parte do Brasil desde San Tiago Dantas, com antecedentes ilustres, como o Barão do Rio Branco, que aumentou o território nacional sem disparar sua cartucheira, apenas na base da negociação e da firmeza. Só que na época ninguém dizia que o velho Barão estava fortemente viabilizando o Brasil. Ele estava e pronto, sem advérbios.

FERRAMENTA – Não se trata de foice e martelo, nem de serra. Ferramenta é tudo o que brilha no escuro e serve para você dizer que se trata de uma ferramenta. O word, por exemplo, ou o Google. Também são ferramentas o just-in-time, a qualidade total, a terceirização, entre outros exemplares da tralha corporativa. Você pode estar na maior pindura, sem perspectivas, cheio de dívidas, mas se disser que usa as ferramentas adequadas talvez alguém acredite e te pague uns pilas por você estar tão up-to-date.

PERRENGUE E MARRENTO – Essa dupla siamesa já está em descendo na moda, mas pode ser citada como ferramenta para expressar o ar blasé de quem está por dentro. Se você, por exemplo, produz um filme com alguém marrento, dá o maior perrengue. E se você armar um perrengue vão fortemente te chamar de marrento. É simples.

POLÊMICO - Você pode cometer as maiores barbaridades, mas desde que tenha grana ou acesso ao cofre, o que dá mesma, você será um cara polêmico. Matou cinco revoltosos que protestavam contra as eleições fraudadas? Você é polêmico. Negou o holocausto, condena a existência de homossexuais e diz que seu programa nuclear é um trem sem freios? Polêmico, polêmico. Não é ditador, nem oportunista, nem psicopata. É um cara polêmico, entende? Colocou a bola com a mão para dentro do gol? Vai ser polêmico assim na final da copa de 98. E já vou avisando: Platini, nós vamos te pegar!

SINERGIA, CONVERGÊNCIA E PARADIGMA – Sinergia é o que acontece no apagão, quando todas as linhas de transmissão entram em colapso porque Tupã deu um traque na selva. Convergência é a identificação de propósitos e objetivos como acontece atualmente entre o Grêmio e o Flamengo. E paradigma é quando você não tem nada o que fazer e inventa um paradigma. É assim que funciona.

RETORNO - Imagem desta edição: o time do Grêmio em 1957, quando era outro o paradigma, e ninguém era marrento nem provocava perrengue. No centro, abaixado, o uruguaianense Gessi, que fez um monte de gols no estádio da Bombonera, entre outros feitos, o cracaço que virou dentista aos 26 anos e nunca mais jogou. Isso sim é que é ser polêmico.

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