17 de abril de 2009

POESIA A TODA HORA


Nei Duclós

Cresce minha dívida com poetas que me enviaram seus livros, todos ótimos. Não tenho escrito muito sobre essa arte suprema, esperando alguns insights que costure tanta diversidade e talento. Aproveito, como se fosse o início de textos sobre o ofício, o lançamento amanhã, sábado, na Barca dos Livros, na beira da Lagoa da Conceição, aqui em Florianópolis, da XXI Poetas de Hoje em Dia (Ante), coletânea da editora Letras Contemporâneas (com apoio do governo catarinense) organizada pelas poetas militantes Priscila Lopes e Aline Gallina . A introdução é de Jayro Schmidt e o prefácio de Eduardo Jorge.

Livro de poesia patrocinado é uma solução que vale por uma semeadura generosa. Minha estréia com Outubro aconteceu graças ao mecenato do dinheiro público, do Instituto Estadual do Livro do Rio Grande do Sul. Não que seja a solução definitiva, mas um empurrão, uma abertura, uma proposta, uma sugestão para que as editoras se animem e dêem continuidade ao que nasceu no ninho. Foi o que aconteceu: logo depois de Outubro, a L& PM (do entusiasmado Ivan Pinheiro Machado, que cedeu uma obra sua para a capa) cacifou No Meio da Rua e mais tarde, a Editora Globo (na época, 2001, dirigida por Wagner Carelli) lançou No Mar, Veremos.

No caso da antologia XXI, não são apenas estreantes, mas alguns veteranos convivendo com autores que chegam ao livro. Todos identificados pela atual tendência de usar a internet para difundir o que está sendo chamado de e-poesia. O produto impresso é âncora e referência, fundamental para consolidar obras que ficam tão dispersas no infinito mundo virtual. É uma forma de balizar trabalhos que confluem para os bits e bytes por opção e muitas vezes, por falta dela. Mas seja qual for a ferramenta usada, o que vale é o trabalho poético, que se impõe pela intensidade, vocação e talento.

Poesia vale por vários motivos. Um deles é um poema inesquecível, que fisga na primeira leitura e nos acompanha, como este de Cynthia Lopes, da coletânea XXI: “passou por mim. estabanado, esbarrou no meu céu, derrubando estrelas”. A limpidez do verso, sua precisão, sua trajetória certeira, não pode ser confundida com a atual tendência de gerar hight-lights de impacto, mais fundado no trocadilho e na falsa surpresa. Um poema como o de Cynthia faz parte de outra linhagem, de uma poesia que usa o clima do aforismo para criar uma imagem, uma metáfora, quase uma parábola. Derrubar estrelas como um sinal do amor que chega de surpresa é pura criação, de uma leveza que acena para um võo mais alto.

Mas o que mais tem atraído o fazer poético é a criação em cima da própria linguagem, numa busca incessante de caminhos, de procurar entender todas as nuances e caprichos da poesia, nesta quadra da vida em que se acumulam inúmeros poetas magistrais que fazem parte das leituras obrigatórias. Depois da Praxis, do Concretismo, do Estruturalismo, depois da sonoridade de Lorca, da contundência de Maiakovski, depois da grandeza doce de Vinicius, da amargura e lucidez eternas de Drummond, depois de Cabral, Jorge de Lima, Cecília Meirelles, Manuel de Barros, o que resta para poetas de hoje em diante fazer? Buscar, investigar, pesquisar, contradizer, reinventar, ultrapassar. Verbos da árdua poesia.

A isso se dedicam os poetas da XXI, especialmente Érica Zingano com seu Inventário de Semelhanças- "não somos mais do que um simples conjunto de signos, signatários da diferença”; Wilson Guanais: “um dia eu quebro o inquebrável: a casca do indizível”; Paulo Aquarone, que encontra a na disposição das letras SOS o desfecho “Só os ossos”, lido em todas as direções, síntese de um pedido de socorro que chega tarde demais; ou Marcelo Sahea, que encontra na forma dos pés uma interrogação ou um levantar de asas.

São mais do que experimentos, mas uma poesia que viaja segura. Sem querer enquadrar nenhum autor em escolas ou tendências, podemos vislumbrar buscas de outra natureza, mais chegada à barra cotidiana do país inextrincável, e a identidade pessoal e poética nesse caos terminal, como acontece em Priscila Lopes, Aline Gallina, Estrela Ruiz Leminki, Izabela Leal, Julia Almeida, entre outros. Aline: “o dia cinza reflete em seu corpo sujo”. Priscila: “Estamos fracos, sim/ Quebramos frascos/ de perfumes baratos” .

Além dos citados, os outros poetas, todos com seus projetos e obras afiadas para a análise, estão: Caio Cesar Mayer, João de Moraes Filho, Julia Studart, Karina Gulias, Marcelo Montenegro, Mônica de Aquino, Ronaldo Werneck, Rubens da Cunha, Victor Paes, Victor da Rosa, Wilson Gorj e Wilson Guanais. Uma pequena resenha como esta foi escrita mais para celebrar o lançamento do que propriamente analisar o livro. Tanto o texto de Eduardo Jorge quanto o de Jayro Schmidt são ótimos passaportes para a leitura desta antologia sintonizada com a diversidade da criação literária, que revela o trabalho de 21 autores insubordinados diante dos esquemas consagrados, mas também atentos às heranças e às perguntas que jamais são respondidas, antes são repassadas para as gerações seguintes. Estas, se debruçam sobre novos e antigos enigmas.

RETORNO - Priscila Lopes avisa sobre o lançamento: "É no próximo sábado, dia 18 de abril, às 20h, na Barca dos Livros, o lançamento da coletânea XXI POETAS DE HOJE EM DIA(NTE). O evento será aberto ao público e aquele que comparecer terá direito a um exemplar. Mais informações: Nosso Blog - Comunidade no Orkut .
Sociedade Amantes da Leitura/Biblioteca Barca dos Livros
Fone: (048) 3879-3208. Rua Senador Ivo D’Aquino, 103, Lagoa da Conceição. Florianópolis/SC.

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