O futebol é a voragem do tempo. É impossível acompanhar. Quando acho que conheço algum jogador, ele já se aposentou, já foi técnico, agora é cartola, voltou da Europa, que sei eu. Mas não é apenas isso. Quando vi ontem o goleiro Marcos no Palmeiras fiquei perplexo. O Marcos, ainda? Não tinha ido embora, saído? E o Alex, já é avô na Turquia? E o Adriano, não estava na balada em Milão ou Madri? Está fazendo gol com a mão no Morumbi? É muita areia para meu pobre caminhãozinho.
Como corintiano licenciado, privilégio ao qual me dei o direito depois que o Kia assumiu e o Tevez virou ídolo do timão, e não porque “Vampeta, amanhã é segunda” como dizia um torcedor na véspera da desgraça, posso falar o que bem entender sobre os campeonatos. Uma coisa que realmente me espanta é a insistência em colocar o Paulo César de Oliveira como juiz em partidas decisivas. Por que isso, meu Deus? Sempre dá rolo, o cara é uma fonte de problemas, mas ele continua lá, a prova viva da persistência no erro.
Mas o mais impressionante é o que a bola faz com os coitados dos jogadores. O nível do futebol que vejo por acaso na televisão está abaixo da várzea dos times de Uruguaiana nos anos 50. Ontem, no domingo, teve um lance muito comentado em que três jogadores se atoraram sucessivamente. Sim, se atoraram. Quando você quer chutar a bola e chuta o ar, você se atora. Foi assim que aprendi em Uruguaiana e como todos sabem, a fronteira está sempre certa. Bá, me atorei! E tome cascudo.
Pois o defensor se atorou, o atacante se atorou, o goleiro se atorou e aí a bola entrou (que remédio?) dentro do gol, pois estava na reta mesmo. Teve mais um lance parecido em que um zagueiro chutou as nuvens e a bola caiu nos pés do adversário, que fez a festa nas redes. Como hoje levam craques ainda no berço para o Exterior, ficamos com a sobra e com os veteranos que voltam por terem caído em alguma desgraça, como a idade, ou a balada.
O futebol da várzea era o celeiro de craques do Brasil soberano. Hoje é alvo de deboche do Fantástico com seu quadro “Bola cheia e Bola murcha”. Faz sentido. Se o futebol que se joga no país está no nível varzeano, a várzea não passa de um circo de palhaços. Tudo celebrado pelos canastrões apresentadores, os que arregalam os olhos e fazem trejeitos e poses diante das câmaras. Depois diziam que Charlton Heston era canastrão. Heston era um ator soberbo. Quando estava velho, com Parkinson ou Alzheimer, recolhido em sua casa, foi tripudiado pelo Michael Moore, que sumiu depois da segunda vitória de Bush. Foi um crime do gordote, que tanta denúncia boa fez na TV e em livros. Mas Heston é eterno e só sua interpretação de Ben Hur (denso, lento, explosivo) o coloca no Olimpo da Sétima arte.
RETORNO – 1. Imagem de hoje: Charlton Heston nas galés, em Ben Hur. O magnífico ator, aqui no meio da "galera", jamais se atorava na interpretação.
EXTRA: NOVA EDIÇÃO DA REVISTA SAGARANA
Glauber Rocha em Sagarana! Julio Monteiro Martins anuncia:
“Caros amigos, é com satisfação que anunciamos a presença on-line, a partir de hoje, do n° 31 da revista Sagarana (em língua italiana). Neste mesmo endereço é possível ler os textos atualizados da nova seção da revista: Il Direttore, com a tradução em italiano do conto "O Barco Vermelho", de Julio Cesar Monteiro Martins (publicado inicialmente no libro "Muamba", Editora Anima, Rio de Janeiro, 1985).
Esta nova edição de Sagarana, dedicada à figura de Glauber Rocha, oferece aos seus leitores uma entrevista inédita con o crítico Harold Bloom, textos de Clarice Lispector, Enzo Baldoni, Piergiorgio Bellocchio, Glauber Rocha, Susan Sontag, Roberto Arlt, Guimarães Rosa, Milan Kundera, e poesias de Drummond, Neruda, Frost, Brenda Porster e Eunice Odio, além da sétima e última edição da Exposição fotográfica virtual dos maiores fotógrafos dos últimos cem anos (todos os números precedentes de Sagarana estão ainda on-line no mesmo endereço telemático e podem ser consultados).
Ademais, na seção Archivi, estão disponíveis para leitura todas as "Lavagne del Sabato" publicadas até hoje em Sagarana.”
Como corintiano licenciado, privilégio ao qual me dei o direito depois que o Kia assumiu e o Tevez virou ídolo do timão, e não porque “Vampeta, amanhã é segunda” como dizia um torcedor na véspera da desgraça, posso falar o que bem entender sobre os campeonatos. Uma coisa que realmente me espanta é a insistência em colocar o Paulo César de Oliveira como juiz em partidas decisivas. Por que isso, meu Deus? Sempre dá rolo, o cara é uma fonte de problemas, mas ele continua lá, a prova viva da persistência no erro.
Mas o mais impressionante é o que a bola faz com os coitados dos jogadores. O nível do futebol que vejo por acaso na televisão está abaixo da várzea dos times de Uruguaiana nos anos 50. Ontem, no domingo, teve um lance muito comentado em que três jogadores se atoraram sucessivamente. Sim, se atoraram. Quando você quer chutar a bola e chuta o ar, você se atora. Foi assim que aprendi em Uruguaiana e como todos sabem, a fronteira está sempre certa. Bá, me atorei! E tome cascudo.
Pois o defensor se atorou, o atacante se atorou, o goleiro se atorou e aí a bola entrou (que remédio?) dentro do gol, pois estava na reta mesmo. Teve mais um lance parecido em que um zagueiro chutou as nuvens e a bola caiu nos pés do adversário, que fez a festa nas redes. Como hoje levam craques ainda no berço para o Exterior, ficamos com a sobra e com os veteranos que voltam por terem caído em alguma desgraça, como a idade, ou a balada.
O futebol da várzea era o celeiro de craques do Brasil soberano. Hoje é alvo de deboche do Fantástico com seu quadro “Bola cheia e Bola murcha”. Faz sentido. Se o futebol que se joga no país está no nível varzeano, a várzea não passa de um circo de palhaços. Tudo celebrado pelos canastrões apresentadores, os que arregalam os olhos e fazem trejeitos e poses diante das câmaras. Depois diziam que Charlton Heston era canastrão. Heston era um ator soberbo. Quando estava velho, com Parkinson ou Alzheimer, recolhido em sua casa, foi tripudiado pelo Michael Moore, que sumiu depois da segunda vitória de Bush. Foi um crime do gordote, que tanta denúncia boa fez na TV e em livros. Mas Heston é eterno e só sua interpretação de Ben Hur (denso, lento, explosivo) o coloca no Olimpo da Sétima arte.
RETORNO – 1. Imagem de hoje: Charlton Heston nas galés, em Ben Hur. O magnífico ator, aqui no meio da "galera", jamais se atorava na interpretação.
EXTRA: NOVA EDIÇÃO DA REVISTA SAGARANA
Glauber Rocha em Sagarana! Julio Monteiro Martins anuncia:
“Caros amigos, é com satisfação que anunciamos a presença on-line, a partir de hoje, do n° 31 da revista Sagarana (em língua italiana). Neste mesmo endereço é possível ler os textos atualizados da nova seção da revista: Il Direttore, com a tradução em italiano do conto "O Barco Vermelho", de Julio Cesar Monteiro Martins (publicado inicialmente no libro "Muamba", Editora Anima, Rio de Janeiro, 1985).
Esta nova edição de Sagarana, dedicada à figura de Glauber Rocha, oferece aos seus leitores uma entrevista inédita con o crítico Harold Bloom, textos de Clarice Lispector, Enzo Baldoni, Piergiorgio Bellocchio, Glauber Rocha, Susan Sontag, Roberto Arlt, Guimarães Rosa, Milan Kundera, e poesias de Drummond, Neruda, Frost, Brenda Porster e Eunice Odio, além da sétima e última edição da Exposição fotográfica virtual dos maiores fotógrafos dos últimos cem anos (todos os números precedentes de Sagarana estão ainda on-line no mesmo endereço telemático e podem ser consultados).
Ademais, na seção Archivi, estão disponíveis para leitura todas as "Lavagne del Sabato" publicadas até hoje em Sagarana.”
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