25 de janeiro de 2008

CARNAVAL ENQUANTO GOVERNANÇA


“Inspetor de qualidade” dizem as costas da xiruzada que lava carro num posto da avenida Paulista. “Governança” diz outro jaleco de algum passeador de cachorro. Aumenta o orgulho de termos cada vez mais carteiras assinadas na área de limpeza, esfregação de bunda em aeroporto, enceramento de piso em mármore de carrara, lambedor de botas e tudo o mais. Mas falta um carpinteiro decente na construção civil. Se aparece um em alguma obra, vem a concorrência e leva embora, diz no Jornal Nacional um engenheiro abismado. Ganham mais do que a maioria dos jornalistas, que desceram vertiginosamente na pirâmide social por força da ditadura.

Agora é moda achar que o carnaval é um exemplo de gestão de qualidade. Esse gigante que é o joãosinho trinta, que criou a fase lapidar do obscurantismo (“quem gosta de miséria é intelectual”), é o parâmetro. Num país onde a educação foi sucateada de propósito, o ressentimento contra quem leu mais de um livro é uma avalanche que vem por todos os lados.

O certo é dar o seu melhor em campo e sacudir a perereca dentro dos princípios fundamentais do rebolado ergonômico. Há um deslumbnramento com a capacidade ditatorial dos chefes de bateria. O cara que resolver fazer um breque por conta, dar um repique que não estiver nos limites impostos da batucada padronizada, cai fora, sob aplausos varonis da nação empertigada, todos fazendo sim sim seu tolinho com milhões de cabeças concordinas.

Está tudo lá: o povo se comporta conforme o figurino, pois tem que cacifar sua própria fantasia, treinar até a loucura os mesmos passos para que tudo saia rigidamente cronometrado como um relógio suíço, obedecer os capangas e chefetes que dominam a área e ainda ter fôlego de mil dromedários, pois não se deve tugir nem mugir para que a escola saia campeã.

É um fenômeno. Enquanto a massa pasta na obediência servil, fazendo o papel de figurante, quem pode pagar ganha destaque. É o japonês prejudicado de movimento, a americana que precisa dar e não sabe como, além dos destaques importados das novelas. As celebridades ocupam o pódio usando o povaréu como tapete, por onde passam todos os aproveitadores, numa época em que otoridades improvisadas tipo esse da novela, o Juvenal Antena, dominam as comunidades

Ou seja, é a estrutura ideal para quem vive numa ditadura. Na periferia de Salvador, gangs dos tais menores expulsam e matam os moradores e isso serve para algumas blitz e matérias de alarme. Por que se chega a essa situação cafageste? Porque os governos estão voltados para outras coisas e a nação vive ao Deus dará, só como um túnel, como diria Neruda. Aí o teterio, o tetame, a bundagem, a pubarada, a paudurescência, a sovaquice, a pernoquera, o com-certezismo, os abadás, os meus reis e tudo o mais invadem as pistas e dão o maior exemplo de eficiência e organização da governança corporativa.

Ora vão todos cagar muita, mas muita pedra.

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