28 de outubro de 2007

FICÇÃO ALIMENTAR


Uma das ficções mais perniciosas que nos dominam é a da indústria alimentícia. O que vendem nos supermercados, principalmente nas tais ofertas? Manipulações variadas de soja transgênica, envenenadas por produtos químicos para garantir a longevidade do produto, embaladas de maneira colorida e mentirosa. Sem falar na quantidade de bebidas inúteis, que as pessoas levam às toneladas, como se precisassem de quilos de açúcar concentrados em garrafas pet, ou álcool acompanhado por imagens de mulheres gostosas. Seja macho, beba. Seja feliz e tenha família perfeita, basta passar gordura artificial no seu pãozinho branco.

Os prazos de validade são impressionantes. Como um troço feito para comer ou beber pode valer por dois anos? Vejam o leite Longa Vida. Agora caiu a ficha que é leite pôdre trabalhado com água oxigenada e soda cáustica. Pegaram uma megaempresa mineira que distribuía 300 mil litros por dia para todo o Brasil. É um assombro. O leite tem que ser produzido e distribuído localmente. Precisa estar vivo para chegar às crianças e aos idosos, e, de quebra, aos adultos. Assim como os legumes e frutas. Cansei de comprar pêssego chileno caríssimo que se revela em casa esponjoso, passado, amargo. Maçãs que apodrecem mantendo o brilho da casca. Mamões que passam do estado verde total para intragável absoluto. Pulam o período da maturação.

Há artificialismo em tudo. Colocam os alimentos sob condições anti-naturais para que eles possam ser comercializados fora da temporada. Você tem acesso a veneno o tempo inteiro. O mais grave é que te viciam. A pessoa fica cansada, doente, obesa, mas não consegue atinar que a fonte de tanta desgraça está nas prateleiras, apresentadas de maneira sedutora. As mensagens comerciais que nos massacram têm tudo a ver com o crime. Eles te oferecem carne pôdre em oferta, te atraem para preços baixos e você chega lá e vê que apenas algumas porcarias estão abaixo da tabela, o resto continua ainda mais caro.

Uma coisa que não entendo é como os produtos naturais são tão acima das nossas posses. Deve ser por falta de produção em escala. Como produzem pouco, então o preço unitário vai para as alturas. O arroz integral, que não ganha aqueles banhos químicos para torná-lo caucasiano, ou seja, o arroz moreninho com sua película protetora intacta, fonte de proteínas e vitaminas, custa mais do que o dobro do que o branquelo. Qualquer verdura sem agrotóxicos exige uma fortuna. Se houver possibilidade de investimento, esse é o canal: livrar-se das barbaridades alimentícias e se concentrar apenas em alimentos vivos. Viciar neles e obter resultado imediato. Tudo melhora, a começar por sua aparência.

Precisa apenas escapar das obsessões e das culpas. Está cheio de espírito de porco querendo te mostrar como a coisa funciona. Você está comprando algumas coisas naturais no empório e lá vem o entendido dizendo para colocar mel na salada, que fica uma delícia. Pára com isso. Ou então, se você confessar que só come produtos naturais, alguém vir contar alguma história escabrosa envolvendo macrobióticos e outros pesadelos. O ideal é romper com a ficção alimentar sem dar bandeira. Quando estiveres emagrecendo, vai chover espírito de porco dizendo como você engordou. Faz parte. A humanidade é um projeto perdido.

RETORNO - 1. Imagem de hoje: Ceagesp, por Marcelo Min. 2. Não vi ainda "Tropa de Elite", o filme da hora. Mas Urariano Mota viu. Leia.

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