7 de dezembro de 2005

APRENDER NÃO É DIVERTIDO

Há uma campanha dos cursinhos, na publicidade televisiva, brincando com o conceito de aprender. Um cursinho, sabemos o que é: um reforço para quem pode pagar e que cobre o vácuo deixado pelo sucateamento da educação. Cobra caro normalmente e visa o lucro, dentro do princípio do empresariar necessidades públicas (me repassem a concessão de uma linha de ônibus que, sem um tostão, levanto financiamento para uma frota, pois o investimento se paga a partir da obviedade de que ninguém pode ficar sem transporte). Como ninguém fica sem educação, a não ser os que são empurrados para a ignorância (a maioria no Brasil) proliferam escolas privatizadas. Os cursinhos oferecem o conhecimento prático, o que orienta para o vestibular, só que atuam num nicho saturado. Por isso gastam os tubos em publicidade, grana preta carreada das famílias dos alunos. O que dizem os reclames? Aprender é divertido, tão gostoso que você vai ficar a vida toda querendo mais. Todo conhecimento implica estranhamento, já disse o filósofo José Arthur Giannotti. Estudar o que não se gosta é o mais importante. Pois aprender exige humildade, contraria a certeza granítica de que nascemos sabendo. O pensamento conservador do grotão não admite o aprendizado: o poder é passado de pai para filho, assim como o saber. E o saber é oral. O poderoso diz em voz alta o que nasceu sabendo. Quem nasceu sem poder, nunca saberá nada. Portanto, aprender não tem nenhum sentido, a não ser para movimentar a economia pré-capitalista em que vivemos.

HOMER - É por isso que se nivela por baixo o noticiário. O telejornal é a manipulação da notícia embrulhada em embalagem comestível, dirigida a toda população, que nada sabe. Como jamais saberá, não adianta gastar chumbo em chimango. Se diz em alto e bom som o que os poderes precisam implantar na cabeça alheia, mas com o cuidado de não contrariar a ignorância de quem liga a TV depois do trabalho. O cidadão sobrevive num universo de frustrações coletivas: paga caro para sofrer nas conduções, atura o autoritarismo dos chefetes de plantão, corre o risco de sofrer violência tanto de dia quanto de noite, não tem condições de lazer (ou não tem dinheiro ou não há vagas nos nichos da indústria de entretenimento, sempre lotada), portanto merece ser tratado como o imbecil que é. Sua representação, segundo o editor chefe do Jornal Nacional, William Bonner (que teve o desplante de justificar sua metáfora) é o Homer Simpson, o anti-herói sem caráter dos americanos. Homer trabalha em vão (numa usina nuclear), não tem princípios, é um preguiçoso. Pois essa é a imagem do cidadão trabalhador brasileiro, segundo Bonner. O pior é que muito jornalista concorda com ele. Jamais esqueceremos a noite em que Bonner fez Lula de âncora do JN, numa clara demonstração da força de manipulação por parte do monopólio que o emprega.

BENGALAR - Em outra manifestação de obscurantismo, Diogo Mainardi acusa Mino Carta de estar a serviço de Tasso Jereissati. Mainardi deve a Mino o emprego que hoje desfruta, pois foi Mino quem inventou a Veja e fez da revista um veículo com credibilidade (que já foi para o buraco negro). A Veja jamais repercute as denúncias da Carta Capital, assim como o resto da grande imprensa, o que é uma forma de silenciar o maior jornalista do Brasil, enterrá-lo vivo e, agora, tentar desmoralizá-lo. No fundo, o objetivo de Mainardi no seu artigo é entregar que existem ainda quatro lulistas na redação da revista onde trabalha, tida como tucana. Aos 70 anos, Mino Carta merece a posição que tem no cenário do jornalismo brasileiro: o de civilizador, um professor sem pose, um profissional brilhante e de texto admirável e um cidadão com a rara qualidade da coragem. Tentar destruí-lo com uma única citação na revista que jamais o cita, a não ser para o achincalhe, é uma grosseria inominável. Tanto Bonner quanto Mainardi são pessoas poderosas, mas possuem esse poder porque não há oposição no Brasil. Merecem umas boas bengaladas.

RETORNO - É trágico, mas não deixa de ser divertido ver a China fazendo gato e sapato do Brasil, não dando a mínima pelota para os salamaleques que o presidente Lula e sua farta comitiva fizeram em Pequim. Empresas brasileiras estão sendo sucateadas em série, já que os chineses, donos das ruas do Brasil com seus produtos horrendos (fruto do desprezo que devotam ao resto do mundo, do qual fazemos parte carregando o estandarte) tomam conta de todo o mercado, de papel higiênico a toalhas de renda do Nordeste. Milhares de empregos somem no ar, insuflados pela política econômica de arrocho desse portento que é o Palocci e pela gargalhada chinesa, que foram papacaricados até o osso e depois cuspiram em cima, para surpresa dos nossos estadistas de estádio (Lula ao lado de Tevez: campeones del mundo perro).

Nenhum comentário:

Postar um comentário