O prestigiado ranking anual do DF divulga mais uma edição dos destaques do Brasil Soberano. Procurei fazer como nos outros veículos: fui o mais tendencioso possível. Mas como sabemos que a exclusão oficial dos nomes talentosos costuma ser um bom parâmetro, nosso cânone tem muito mais chances de fazer justiça do que os outros. Vamos à lista, no maior número de atividades possível. LIVROS 
O LIVRO DO ANO -
Tarso de Castro - 75 kg de músculos e fúria (Editora Planeta), de
Tom Cardoso. Pelo resgate de uma personalidade que tentaram erradicar da memória nacional, pela qualidade da pesquisa e do texto, pelo impacto no público e na imprensa e por desmascarar os que se apropriaram do trabalho do jornalista que mudou a imprensa brasileira.
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ROMANCE -
Quando alegre partiste (Editora Francis), de
Moacir Japiassu. O terceiro romance do Mestre passou intacto (mas não será por muito tempo) pelos polpudos prêmios distribuídos a torto e a direito e brilha numa seleta constelação das jóias da literatura brasileira.
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BIOGRAFIA -
Minha razão de viver (Editora Planeta), de
Augusto Nunes , edição ampliada do grande texto sobre Samuel Wainer, narrado na primeira pessoa pelo protagonista. Augusto Nunes é
primus inter pares e a trajetória que recria do grande jornalista merece estar na estante de todos os brasileiros.
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LIVRO DE POEMAS ESTRANGEIRO -
Folhas de relva, de
Walt Whitman (Iluminuras), edição bilíngüe, tradução de
Rodrigo Garcia Lopes. Os 150 anos do livro de nossas vidas é comemorado com caprichada edição e nos devolve o que a América tem de melhor.
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ROMANCE ESTRANGEIRO -
Shosha, (Editora Francis) de
Isaac B. Singer, tradução de
José Rubens Siqueira. Escrito em 1978, quando o autor ganhou o Nobel, e lançado este ano no Brasil, este romance é um marco pela composição magistral da trajetória de um escritor cercado pela guerra e torna-se inesquecível pela redenção que o próprio Singer encarna ao mergulhar em todas as tragédias humanas.
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LIVRO DE CONTOS -
A viagem (Editora Movimento), de
Cícero Galeno Lopes. A excelência do ofício expressa as falas ocultas de um povo apresentado sem caricatura e dentro de uma linhagem de verdadeira renovação da linguagem literária, aliada à consciência plena de um professor e teórico.
LIVRO DE POEMAS BRASILEIRO -
Nunca mais seremos os mesmos, de
Luiz de Miranda. Aos 60 anos, o Poeta publica a saga de sua geração, no miolo de uma obra reconhecida pelos maiores escritores da língua, enquanto aguarda a sua obrigatória indicação para a Academia Brasileira de Letras.
PROMESSA -
Eduardo Frizzo, jovem escritor gaúcho, que definiu sua primeira obra com o tom carregado de reflexão e metáforas. O título, magnífico, ainda não pode ser divulgado, pois seu trabalho está concorrendo a importante prêmio literário.
Daniel Duclós, com seus contos sobre o mundo corporativo e monstros variados, também está pronto para estrear em livro em 2006.
ANTOLOGIA -
A terra dos longos olhares (Editora Holoedro), organizada pela professora
Lucia Silva e Silva. Por revelar dezenas de autores, por costurar um perfil de identidade e estranhamento em território conflagrado. Destaque para o conto
Passagem, de autoria de
Vera Molina, em que a criação e o sangue digladiam numa família no funeral de uma dos personagens.
CRÔNICAS -
O vôo da palavra (Editora Mediação), de
Walter Galvani. Um curso sobre a arte de abordar assuntos variados, com o rigor de um profissional admirado pela contribuição à imprensa, um escritor consagrado e um inesquecível diretor de redação.
PERSONALIDADESPERSONALIDADE DO ANO -
Jary Cardoso. O grande jornalista cultural emerge da sombra como o anjo da guarda do livro do filho Tom sobre Tarso de Castro e lança luzes sobre sua biografia permeada pela luta de quase quarenta anos.
AGITADOR CULTURAL -
Marco Celso Viola. O Grande Poeta Oculto, à frente do Instituto Machado de Assis, repõe a História do movimento literário da época mais dura da ditadura e gera uma série de eventos sobre poesia, além de manter programa cultural em rádio comunitária de Porto Alegre.
IMPRENSA IMPRESSAREVISTA -
Carta Capital, de
Mino Carta. Remando contra a corrente, Carta Capital foi o contraponto da fúria que tomou conta da mídia, subitamente despertada para a corrupção e totalmente sintonizada com o espírito revanchista. Pode-se discordar da revista, mas não da sua contribuição ao debate.
JORNAL -
Folha de S. Paulo. Sempre há o que ler na Folha, que aposta na diversidade de enfoques e opiniões e ainda mantém vivo o espírito das grandes reportagens, apesar das limitações para esse tipo de trabalho fundamental do jornalismo..
EQUIPE DE REPORTAGEM DE JORNAL - De
O Globo, com destaque para
José Casado, com sua reportagem reveladora sobre os bastidores da fundação do PT
EQUIPE DE REPORTAGEM DE REVISTA - A da revista
Empreendedor, de Florianópolis:
Fabio Meyer, Wendel Martins, Alexsandro Vanin, Sara Caprario e Carol Herling trabalham os assuntos de maneira independente e conseguem influir na pauta dos grandes veículos especialmente ao cobrir com antecedência as tendências das franquias e da tecnologia da informação aplicada aos negócios. Destaque para a edição de arte de
Gustavo Cabral, que alcançou a excelência visual numa publicação que já existe há 11 anos e foi criada e é dirigida pelo jornalista
Acari Amorim.CRONISTA -
Ferreira Gullar, da Folha de São Paulo. As crônicas do Poeta colocam na mídia o que o Brasil tem de mais significativo na cultura e na memória dos últimos 50 anos.
CADERNO CULTURAL -
Mais!, da Folha. Imbatível sob todos os aspectos, Mais! é totalmente obrigatório, e, parafraseando Woody Allen sobre a revista New Yorker, é preciso ler inteiro senão provoca culpa.
EDITOR DE CULTURA -
Dorva Rezende, do Diário Catarinense. Talento de uma nova geração sufocada, Dorva é mestrando em Teoria Literária da UFSC e segura um espaço nobre que aborda os mais variados aspectos da cultura universal, num caderno editado com o espírito livre.
COBERTURA CULTURAL -
Centenário de Érico Veríssimo, da
Zero Hora. A série de edições sobre o maior escritor do Rio Grande do Sul é um banho de informação e de atualização sobre uma obra eterna que marcou para sempre a literatura brasileira.
REPÓRTER DE ECONOMIA -
Sandra Balbi. A veterana repórter dá banho de informação nas suas matérias na Folha, com um texto limpo e atraente e sem ir a reboque do que os poderes definem sobre a economia do país.
SÉRIE DE COMPORTAMENTO - A da última página do
Diário Catarinense, editado por
Cláudio Thomas, que destaca personagens inesquecíveis de Santa Catarina.
CONTRIBUIÇÃO À MÍDIA - Caderno
Aliás, de
O Estado de São Paulo. Num universo em que o espaço para textos mais aprofundados encolhe cada vez mais, sob o pretexto de que não há anunciantes para esse tipo de abordagem, o Aliás entrou com tudo na concorrência e deixa sua marca com artigos, reportagens e entrevistas importantes e colaboradores do primeiro time.
JORNAL CULTURAL -
Rascunho, de Curitiba, editado por
Rogério Pereira. Um assombro no país ágrafo, os quatro cadernos mensais de Rascunho é uma avalanche que soterra a indiferença que toma conta do noticiário sobre autores e livros.
JORNAL ALTERNATIVO -
Zero, do
Curso de Jornalismo da Ufsc. A cobertura sobre as manifestaçõies de rua em Florianópolis, revelando líderes e organizações, é o destaque deste jornal mensal editado pelos alunos e professores da excelente unidade universitária dedicada à formação de profissionais da imprensa.
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CRONISTA:
Urariano Mota. O romancista maior não pega leve quando aborda imprensa e cultura nas suas colunas do La Insígnia e do Observatório da Imprensa.
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REVISTA CULTURAL -
Sagarana. Editada em italiano pelo escritor brasileiro
Julio César Monteiro Martins, é imbatível pelo acervo, pelas revelações, pela seleção de autores, pelo design e pela edição. No site da Sagarana, que inclui também informações sobre a escola de narrativa do mesmo nome, destaque para o espaço Il Direttore, que anuncia o lançamento na Itália este ano de Madrelingua, romance de Julio Cesar.
SITE -
Consciencia.org, de
Miguel Duclós (http://consciencia.org). Com quase cinco mil visitas diárias, Consciência é o mais importante espaço virtual de filosofia em língua portuguesa, com busca especializada (Argos), fórum de debates e revelação de autores em inúmeros artigos exclusivos. Seu prestígio conquistou leitores de todo o Brasil e cruzou o mar, arrancando elogios e leitores de Portugal e países africanos.
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BLOG DO ANO -
Diários de Pequim , de
Sergio Caparelli. Um assombro visual e de conteúdo do escritor e professor, e uma viagem ao que a China tem de melhor.
SITE JORNALÍSTICO -
Comunique-se. Atualizado diariamente, com colaboradores de primeiro time, Comunique-se cresce de importância a cada ano, tendo em 2005 amarrado o guizo no pescoço do dragão, com o debate provocado sobre o Jornal Nacional.
BLOG JORNALÍSTICO -
Noblat. Pelo trabalho de disseminação da informação na fase braba das CPIs. Por furar o bloqueio da grande imprensa, que a partir dele teve que dar a mão à palmatória para a Internet.
BLOG SOBRE BLOGS -
Código Aberto, de
Carlos Castilho, no Observatório de Imprensa. Castilho, detentor de admirável currículo, coloca todo seu acervo e experiência a serviço da seriedade do novo instrumento da mídia.
CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO -
Blog sobre o Curso de Letras, de
Daniel Duclós, que colocou no ar suas anotações em aula, provocando grande impacto da faculdade onde estuda, na USP.
FOTOGRAFIA - Fotogarrafa, de Marcelo Min. O olhar absoluto coloca a exclusão social na roda e revela a Sampa que todos fingem não ver.
Agência Espinha - Helcio Toth, o artista e Regina Agrella, autora da foto que abre este ranking, deslumbram com suas magníficas imagens.
Anderson Petroceli - O fotógrafo maior da fronteira.
TELEVISÃOATOR -
Reginaldo Farias, em América. O impagável fazendeiro caipira, de golas pontudas, olhar arregalado e fala enrolada, foi a melhor criação num mar de obviedades que é a TV aberta brasileira.
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ATRIZ -
Nívea Maria. A viúva Mazé em América foi uma prova de humildade para a ex-estrela, que compareceu com todas as qualidades da mulher que coloca o amor acima de tudo e que ao entregar-se para a família consegue a sua libertação.
AUTOR -
Aguinaldo Silva. Ao criar personagens marcantes para Senhora do Destino, como Giovanni Improtta, interpretado por José Wilker, e seguir à risca as regras do folhetim, Silva conseguiu desenvolver a trama sem cair em chatices ou improbabilidades, a não ser na fase em que foi obrigado a espichar a novela devido ao sucesso que fez.
PROGRAMA -
A Grande Família. Criada por Paulo Pontes e Oduvaldo Vianna Filho nos anos 60, a série renovada acerta na mosca ao colocar a trama nos ombros de autores excelentes, na coerência das situações, no ritmo do texto e no andar dos personagens, que mostram um país que resiste com seu perfil próprio enquanto o mundo desaba com suas pseudo modernidades.
COBERTURA JORNALÍSTICA -
TV Senado e TV Câmara, dois canais obrigatórios na maré alta das CPIs.
ESPORTES
JOGADOR DE FUTEBOL -
Juninho Pernambucano. Um talento vigoroso que a partir do silêncio e da perfeição colocou-se no centro do drama e despontou como titular para a Copa de 2006.
CINEMA
Miguel Ramos: Os dois prêmios em Recife e em Gramado, por sua interpretação no filme
O Cerro do Jarau, de
Beto Souza, consagra o maior ator do Brasil.