19 de abril de 2004

O PASSAGEIRO BATE O BUMBO


Uma entrevista para o jornalista Mauricio Melo Junior, do programa Leituras, da TV Senado, que irá ao ar no próximo fim de semana, uma entrevista para a Radiobrás, que tem 500 emissoras filiadas, e uma resenha que saiu hoje no Diário Catarinense, assinada por Dorva Rezende, são as primeiras manifestações fortes da mídia em relação ao meu romance Universo Baldio. A resenha de Dorva é a primeira dedicada exclusivamente ao meu trabalho em 23 anos. A imediatamente anterior saiu na IstoÉ em 1980. Desta vez, o bloqueio acaba. Transcrevo abaixo o texto que saiu no Diário.

Literatura

Relato de Floripa no tempo do desbunde

Romance autobiográfico recheado de invenção do poeta Nei Duclós

DORVA REZENDE

"Florianópolis, início dos anos 70. Praia de Itaguaçu. Um grupo de jovens vindos de diferentes lugares do Brasil (a maioria de Porto Alegre) divide suas misérias, sonhos e uma quantidade considerável de drogas, além, é claro, de um teto, em plena ditadura.
Primeiro romance do poeta e jornalista gaúcho Nei Duclós, Universo Baldio é um relato do desbunde, período em que uma boa parte da juventude brasileira trocou a rebeldia pelo niilismo. "Depois do AI-5, depois de 68, a universidade perdeu o sentido. E com a repressão pegando firme, Floripa, antes do aterro, foi como um paraíso descoberto por uma primeira leva de gaúchos que fugiam de Porto Alegre numa época de terror", diz o autor, que morou em Florianópolis entre 1972 e 1973 (trabalhou na Propague), comprou há uns anos uma casa na Praia dos Ingleses (ele estava aqui durante o Apagão) e pensa em se mudar em definitivo para a Ilha. "É uma paixão antiga", confessa.
Em São Paulo, onde fez carreira jornalística, Nei trabalhou na Folha, nas revistas IstoÉ e Senhor e no jornalismo empresarial. Atualmente, é coordenador editorial da W11 Editores, por onde saiu, através do selo Francis, o seu novo livro. Anteriormente, Nei havia publicado os poemas de Outubro (1976), No meio da rua (1980) e No Mar, Veremos (2001).
Universo Baldio é dividido em duas partes e expõe panoramas de quatro cidades: Florianópolis, Porto Alegre, São Paulo e Uruguaiana (onde Duclós nasceu, em 1948). O primeiro tempo, intitulado República de Itaguaçu, narra as desventuras de quatro amigos (ou cinco, ou seis, o número de pessoas na casa variava), todos sem grana, uns deles repórteres free lance, entre outros bicos, que sobreviviam graças à boa vontade de dona Isaura, a empregada. Quando ela se demitiu, um da turma não suportou a perda e foi embora também. Época em que, entre experimentos com vários tipos de alucinógenos, os "desterrados" partilhavam da amizade com o cantor e compositor Luiz Henrique Rosa, passeavam no Simca Chambord do músico bigodudo e de pedalinho na Praia de Itaguaçu, escutavam rock'n'roll: "Os discos não eram muitos. Hoje, meu filho cata coisas daquela época na Internet e vêm me perguntar se eu ouvia. Coisas que eu nunca conheci. Quando muito escutávamos Hendrix, Caetano, essas coisas", fala Nei, cujo alter ego, no livro, é o personagem Luís, que adota com relação ao desbunde uma postura crítica, embora não deixe de participar da farra permanente. "Como não tínhamos importância, éramos uma geração excluída. Não acreditávamos mais na militância, então a nossa forma de reação era através da arte", diz ele.
A segunda parte do livro, intitulada Papel de bala, transcorre em São Paulo, três décadas depois, quando Luís é assombrado pelo fantasma de um velho caudilho da revolução de 1923, o general Honório de Lemos, que o leva de volta para o pampa num percurso expiatório. "Quis fazer uma espécie de viagem na emoção, em busca da sinceridade da linguagem. Num país que desperdiça tudo, essa segunda parte do livro seria como uma ferida aberta", afirma Duclós.

Universo Baldio - Nei Duclós (Francis/W11 Editores). 192 págs. R$ 29,50"

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