22 de fevereiro de 2024

AINDA MOÇO

 Nei Duclós 


Não me importo mais em enxergar

pouco. Ou misturar os sons

que já nem ouço. Ou ser chamado

de sonso. E não ter paciência

para o jogo que o dia obriga

na disputa do osso


No fundo é tudo esboço

de uma vida futura, pelo avesso

quando o mundo exaure enfim

seus hábitos e torna-se o que sempre foi

absurdo.


Por isso não se despeça quando eu estiver

morto. Não estarei no aeroporto

para te tratar de hóspede. Nem no funeral,

apenas o corpo. A alma também partirá

para um recomeço num lugar onde a memória

não possui passaporte


Estou pronto, aproveite que ainda sou

moço. E tenho esse dom à mostra

que é a palavra sem rebuços, arte

que aprimoro para dizer o que sinto


Nei Duclós

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