27 de outubro de 2020

O MUNDO PERDIDO

 Nei Duclós 


Ninguém falava nada

Nem a blusa aberta no verão 

A saia levantada guardando a flor

O sangue, segredo da donzela no algodão 

As mangas de camisa, o peito nu

Penugem no braço e bicos de soutien


Todos calavam o poço de tesão 

Na borda a gurizada em volta do maiô

De bruços a esperança torrando ao sol

No baile um aperto que furava o chão

E os banhos de rio ao anoitecer


Lá vem o pai com o cinto na mão

O chinelo da mãe a descer sem dó 

Assim era o mundo antes de existir

O sêmen, o orgasmo, seja lá o que for

Havia ainda o flerte na sessão 

E até na missa um véu era mortal

Podia desmaiar antes da comunhão 



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