Nei Duclós
Depois de ler mais de 400 páginas de Michelet e a Renascença, de Lucien Febvre, exponho
aqui por itens minhas impressões, para resumir o que aprendi do grandes mestre
da Escola de Annales, que revolucionou a História junto com Marc Bloch:
A História não muda por rupturas, mas por continuidades que
chegam a pontos limite. Uma sequência que se esgota e abre a guarda para um
salto, em que a nova situação não se opõe à antiga, mas carrega dentro de si os
principais elementos herdados da fase anterior. A humanidade não dorme por
longos períodos, sempre há a presença da vida entre os protagonistas que movem
a História.
A Renascença é uma criação do gênio de Michelet, um
protagonista de uma geração de autodidatas que na França precisava criar uma
tradição depois de décadas de guerras e de ruínas. Ele transformou as múltiplas
manifestações renascentistas, já detectadas por vários autores, num conceito
denso, que virou cânone e que hoje esquecemos dessa sua origem de tão consolidado
que ficou.
A contribuição de outros autores, como Stendhal e Étiènne Delécluze,
não foi de historiadores especialistas, mas de grandes observadores, sensíveis
e cultos, que ousavam pontificar sobre o que viam, especialmente o grande
choque cultural da realidade italiana na mentalidade dos franceses exaustos da
guerra. Lucien Febvre chama a atenção que não é uma apropriação francesa da
cultura italiana, mas o impacto que essa cultura estrangeira gerou entre os
autores franceses viajantes.
O historiador tem a responsabilidade de enxergar a sociedade e os acontecimentos de maneira
completa, sem cair em armadilhas do simplismo, da percepção viciada. Lucîen Febvre
varre a literatura histórica sobre a Renascença e encontra sempre os mesmos
defeitos. Por isso destaca o papel fundamental de Michelet, o grande autor da
Revolução Francesa e o criador do conceito de Renascença dentro da diversidade
das datas, das inúmeras fontes que deságuam na retomada criativa da cultura
clássica e no resgate da importância cultural de uma época desprezada, a Idade
Média.
Mais não digo por enquanto. Ganhei tempo lendo este livro,
lançado em 1995 pela Scritta.
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