15 de fevereiro de 2014

AMOR NÃO É COISA QUE SE FAÇA



Nei Duclós


Amor não é coisa que se faça
Está fora dos ofícios, dos mecanismos da caça
É pomba sobre os telhados, pousa por ser destino
O que vem depois é água em direção ao abismo
borboleta no rastro de um cardume de golfinhos

Amor é bicho marinho fora da rede de arrasto
todo mundo viu, mas só poucos acreditam
não é fácil fisgá-lo da amurada de um barco
empiná-lo, lua cheia, nas nuvens da borrasca
resolvê-lo em cadernos de algoritmos escassos

Amor é forte em ruínas, com rifles enferrujados
a tropa fugiu de casa diante de uma vanguarda
cem canhões dispararam sobre teu perfil claro
levantei minha bandeira onde havia casamata
entrei conquistador na cidade sem abrigo

Amor não faz sentido, é sonho que não avisa
jogo de conchas no mapa do nosso grito
estaremos perdidos antes que venha o futuro
o final anunciado em trombetas manuscritas
Tenha dó da palavra, não atingirá o conflito

Amor é soco no ar, planta que agarra pedra
espinho com vocação de ser guardião da pétala
corpo de desafogo, pavio de longo compasso
nó de gravata nova antes do baile de gala
rosa posta na mesa quando teu beijo desatas