16 de novembro de 2010

JÁ FOMOS MELHORES


Nei Duclós (*)

Falar bem do passado é uma atitude suspeita, criminalizada pelo evolucionismo barato que tomou conta das mentes com a crescente propaganda de governos cada vez mais incompetentes. Fico invocado com a repetição exaustiva de que o Brasil atual é um portento e só precisa fazer alguns ajustes para se tornar um fenômeno. Como acabar com a violência disseminada, a corrupção galopante, as obras inacabadas, a infra-estrutura podre, a prostituição por todo o canto, as drogas liberadas e vendidas a céu aberto, o desemprego em massa principalmente entre a juventude, além de outros fatores absolutamente casuais e sem importância.

A mentirada colou porque o bezerro de ouro atual é a estatística e número pode ser facilmente manipulado. Mas se você diz que num passado não muito remoto o ensino público era de excelência, chegam a duvidar. Ou rebatem com balanços maquiados sobre a verdadeira situação. Sabemos como estão muitas escolas públicas hoje. Ameaça de morte é comum, de alunos entre si e contra os professores. Há uma ajuda de custo para o estudo, então a meninada vai para merendar e fazer uma social. Não querem aprender, pelo que atestam vários testemunhos, pois são aprovados por decreto.

Nas décadas de 30 a 50 todas as classes sociais freqüentavam a escola pública, tida como rigorosa. As consideradas fáceis eram as particulares, o que não faz justiça ao grande nível que tínhamos no ensino a cargo de leigos ou religiosos. Mas educação era só um detalhe. Na cultura, tínhamos de Graciliano Ramos a Vinicius de Moraes, de Tom Jobim a Heitor Villa-Lobos, de Guimarães Rosa a Érico Veríssimo. O que temos hoje? Na diplomacia tínhamos San Thiago Dantas e Oswaldo Aranha e o que temos hoje? Nas ciências humanas tínhamos Celso Furtado e Sergio Buarque de Holanda, Caio Prado Jr. e Florestan Fernandes e o que temos hoje?

Bastava uma câmara apontar para uma cidade brasileira para emergir, no esplendor, o urbanismo do que chamam Brasil antigo e eu lembro que aquilo foi a Era Vargas. Vi documentários americanos sobre o Rio de Janeiro e outros lugares do Brasil. Vi um filme sobre São Paulo em 1954 e lá estava a cidade limpa, organizada. Propaganda? Nada. Era o Brasil muito melhor do que o de hoje.


RETORNO - 1. Crônica publicada nesta terça-feira, dia 16 de novembro de 2010, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Um exemplo do Brasil em 1942. 2. Imagem desta edição: Flamengo, Rio dos anos 40: a limpeza e a harmonia do espaço público. Brotou assim, do nada? Não, porque existiam políticas públicas de limpeza de espaços públicos. Foi assim não por ser "antigo", mas por ser a Era Vargas. Sente saudade? Basta ter um governo decente para voltarmos a ser o que fomos, muito melhores em tudo.

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