29 de julho de 2009

TAS E HUCK: DOIS BOBALHÕES


Nei Duclós

As personalidades histriônicas de Marcelo Tas e Luciano Huck representam uma sociedade que abriu mão da meritocracia. Pelo que são, uns bobalhões que impõem suas gracinhas graças ao apoio de poderes imprevisíveis em seus critérios, jamais teriam chance se não fossem instrumentos das nulidades que comandam o espetáculo na política, na economia, nos costumes. Fosse outra a realidade, qualquer um deles não passaria pelo corredor polonês de cascudos a que eram submetidos garotos de outras eras, quando a máscara, a pose, a falta de carisma eram punidos por uma convivência, hoje enterrada, que não perdoava a falsidade.

A briguinha ridícula que suas assessorias mantêm no Twitter, numa disputa por mais popularidade, faz parte desse show de horrores em que se transformou o país à deriva. O tranco redundante da performance de Tas há 30 anos repete seu personagem favorito, o imbecil que procura atrair simpatia exibindo-se como o bôbo de uma corte que o tolera e finge se ofender. A empostação fajuta da voz em Huck (que imita o Raul Gil) é alimentada pela certeza que tem de seus plenos poderes, que se estendem da televisão a acomodações de luxo no litoral. É de desconfiar que seja garoto propaganda de tantos produtos, a não ser que faça parte de um esquema perverso de concentração de renda e distribuição limitada a alguns privilegiados.

Em vez de usufruir da popularidade cevada no vazio da vida nacional, deveriam, se tivéssemos um sistema político sério, ser submetidos a atividades agropastoris por um longo tempo. A lavoura poderia devolvê-los a uma razão mediana, já que não podemos esperar, depois de uma temporada ao relento, mais do que alguns brandos insights de cérebros tão pouco privilegiados. Como o Brasil abriu mão de qualquer tipo de oposição há muito tempo, os dois deitam e rolam em seus generosos espaços na mídia.

Tas é o mestre-sala de um espetáculo de humilhações. Seus repórteres arriscam o pescoço para desmascarar um ambiente de notórias criminalidades. Mas no geral o CQC, programa de Tas na Band (clonado de um programa argentino) é um circo para a pseudo inteligência, aquela porção narcisista do obscurantismo bem fornido da brasilidade, que no lugar da leitura prefere o espelho. Tas se diverte espichando as sílabas e sacudindo a cabeça, marcas registradas de sua criação humorística.

Huck é o lotérico aproveitador de desgraças alheias, exibindo seus dotes de assistente social ao proporcionar a reforma de casebres, transformadas em casas de classe média diante dos índices manipulados de audiência. Como não há política habitacional no país e a população pobre constrói como pode suas moradias em cidades e campos cada vez mais favelizados, o dom providencial de Huck se transforma numa espécie de madrinha de cinderela, aquela que faz da abóbora carruagem. Tem também o desfile de musas, ou seja, mulheres sem roupa a sacudir celulites enquanto Huck faz pose de cafetão bem sucedido.

O mais irritante é vê-lo pomposo manobrando estudantes em concursos de palavras, esquema imitado dos americanos e que aqui cumpre o triste papel de ser uma alternativa de programa gramatical enquanto a nação amarga todos os níveis do analfabetismo. Deixar que Huck se torne o mestre de cerimônias de algo que deveria mais pertencer à escola do que à busca do Ibope diz tudo sobre o país sob a mais longa ditadura de sua História.

Mas para que se preocupar? Eles fazem sucesso. É inútil dizer que as pessoas, sem opções, são jogadas na vala comum da mediocridade e esse acervo, a carne exposta da massa falida do país em queda livre, serve de álibi perfeito para justificar tamanha sacanagem.

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