24 de junho de 2006

SEM CHANCES PARA A MUDANÇA





A Copa do Mundo tem levado ao extremo os vícios de linguagem aplicados ao futebol. Quantas de vezes nós ouvimos a expressão sem chances para o goleiro? Quem decide isso? O goleiro sempre tem alguma chance, e mesmo se não tivesse, não seria o caso de inventar outra, de mudar a frase, criar alguma coisa diferente? A mesmice ataca em massa, em tropa formada, como se fosse um exército de Napoleão. Depois da fase Ronaldo está gordo (ah, os tanquinhos cerebrais), que explodiu a paciência por duas semanas, agora veio a fase do problema para o Parreira. É que Juninho Pernambucano jogou bem, fez gol, então isso é...um problema para Parreira. Todos repetem até a náusea, apesar de o treinador dizer que isso não é problema, é solução. Mas não adianta. A cabeça autista da mídia insiste no mesmo bordão, como se a cobertura de futebol fosse sempre a mesma piada, como acontece com os humorísticos da televisão.

MR. SPYDER - O Diário da Fonte deu um furo internacional: a notícia de que Carlos César Aranha Castaneda é sobrinho de Oswaldo Aranha. As pesquisas da redação avançam e agora o candidato a pai de Castaneda não é mais Luis Aranha, mas José Antônio de Souza Aranha, o Zuza, que tinha uns 18 anos quando Castaneda nasceu (os pais de Oswaldo,Euclydes Egydio de Souza Aranha e Luiza Jacques de Freitas Valle, tiveram 13 filhos, nove homens e quatro mulheres). A reportagem avança, enquanto o mundo inteiro emudece, sem chances para o blog. As únicas reações foram a do jornalista Marlon Assef, que acreditou e ficou chocado com a notícia, e Eduardo San Martin, que não se convenceu, o que é um direito do querido amigo e escritor. Quer mais evidências e elas virão, aos poucos, enquanto ninguém se mexe. Só o que falta mesmo é alguém dar o mesmo furo em algum outro lugar, digamos, com mais audiência e omitir que fomos pioneiros na revelação. Há o perigo de ser contestado frontalmente, mas a verdade vencerá. Que é sobrinho de Oswaldo Aranha, é. Estamos nos escalando para o Prêmio Exxon de reportagem. Ué, não é Exxon?

EITO - Festejado escritor e humorista acha que Ronaldo Fenômeno tem obrigação de jogar bem, porque é pago regiamente para isso. O craque, que é neguinho,na visão dessa elitezinha de papel, precisa ser infalível, senão vem o chicote. Patrão não gosta de escravo fujão, cheio de má vontade, preguiçoso. Vai trabalhar, vagabundo. Tem aquela música de Ary Barroso, que conheci como cortina musical de um filme brasileiro: trabalha trabalha, negro, o negro não gosta de trabalhar, ou coisa assim. O Arnaldo Jabor, com aquele penteado de palhaço Bozo, tentou fazer uma autocrítica depois que Ronaldo marcou dois gols contra o Japão. Reconheceu que tinha falado besteira sobre o grande craque. Tarde piaste, como dizem no Rio Grande. Devias ter evitado o linchamento nos dois jogos iniciais. Depois que Ronaldo provou que é necessário para a seleção, aí calem a boca. Continuem enchendo o saco com o problema do Parreira, a falta de chances para o goleiro e outros insights babacas. Um narrador chegou à conclusão que cada torcida acha a sua seleção a melhor do mundo quando está dominando o jogo e dando toques na bola. Disse isso num tom triunfalista, de descoberta de pólvora e produção de pensamento. Dá vontade de atirar no aparelho de TV.

GANA - Mas vamos nos concentrar. Os jogadores de Gana vão dar trabalho. Talvez não conheçam o seu lugar. Imaginem se Gana ganhar (toc, toc, toc). O que vai ter de feitor com rebenque na mão, querendo lanhar as costas dos escravos...

RETORNO - Imagem de hoje: Av. Ipiranga/Futebolândia, de Marcelo Min, o Olhar Absoluto.

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