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Uma indústria cinematográfica sólida, num país imperial que domina o mercado no mundo todo, e que tem longa tradição em teatro, não se destaca apenas pelos atores incontestáveis, como Al Pacino ou Merryl Streep. Há um time que se impõe pela continuidade de suas performances e aos poucos vai se firmando com artistas de primeiro time, num caminho mais árduo do que as estrelas maiores. Alguns, como Sean Penn, já possuem esse carisma de grandes atores e aquela persona farta de si mesma, de rosto exausto e energia plena, numa composição de sentimentos opostos que fizeram a glória de mitos como Bogart.
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E, na medida certa para os projetos que abraça, Jodie Foster sempre acerta em cheio na sua carreira pontuada por personalidades em situações limite, empurradas para a coragem, em filmes nem sempre de primeira linha, mas com uma atuação invejável. Não só por ser convincente, mas principalmente porque consegue, com seu corpo mínimo, sua boca apertada, seus olhos aparentemente frios, atingir uma grandeza rara na arte que nos fisga pelo olhar e que planta poderosas raízes na mente.
Foster está assustadora (pelo rosto, pela postura, pela gélida presença) nas cenas iniciais de Plano de Vôo, um filme que escorrega a partir da metade para o fim, pois se transforma no lugar comum dos seqüestros e da ação mirabolante. Mas aquela estação de metrô em Berlim, quando encontra o fantasma do marido, e a parte em que carrega a filha embaixo do casaco e a coloca no avião, e sua ira quando descobre a armadilha onde está metida, fazem dela a atriz que gostamos sempre de ver, pois compartilhamos de sua aura, jogamos pesado junto com ela, e sabemos o quanto somos frágeis e enormes na nossa pequenez, que ela representa tão bem. Jodie nos seduz porque jamais sobra e porque, ao escolher seu território mínimo, ali implode para nos surpreender, a nós, que não damos nada na hora em que aparece, e que entregamos tudo no momento em que se despede. Cada vez mais madura, assumindo sempre sua idade, ela nunca esconde o que realmente é ou deva ser na narrativa.
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RETORNO - Minha resenha sobre Carlos Henrique Schroeder e Ferreira Gullar, "O sol oculto", está publicada com destaque na revista Cronopios.
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