16 de junho de 2006

APRENDA COM OS OUTROS




E ponha-se em movimento, para decidir, depois de um golpe de vista, o lance que poderá levá-lo ao sucesso (Resenha publicada originalmente na revista Empreendedor).

Há dois tipos de estratégia, segundo o livro do professor americano William Duggan, O Estalo De Napoleão - O Segredo Da Estratégia (Francis, 317 pgs.) e suas diferenças decidem a vitória ou a derrota tanto no nível profissional quanto pessoal. Uma é baseada na imobilidade e a outra no movimento. A primeira é tributária do planejamento minucioso, os alvos fixos e distantes e a certeza de que tudo vai funcionar conforme foi previsto. A segunda é baseada na experiência do sucesso dos outros, no deslocamento físico para dentro do campo de batalha e na presença de espírito, capaz de descobrir, num relance, o momento e o lugar certo de agir. A primeira depende de um mapa e independe do conhecimento do terreno, já que a luta é travada a distância. A segunda depende da vistoria in loco e da combinação entre o que já provou que funciona e a solução que surge, num insight, na hora decisiva. Nem se discute para qual lado torce o professor da Universidade de Columbia.

Ele é um adepto ferrenho de Carl Von Clausewitz, o prussiano autor do clássico Da Guerra, que estudou por décadas o estilo de Napoleão de lutar. E inimigo mortal de Antoine de Jomini, o suíço elegante que convenceu, por seu livro Sumário da arte da guerra, os exércitos a optarem pelo bombardeio maciço na Primeira Guerra Mundial, quando numa só batalha, a de Verdun, houve mais de 500 mil mortos. Os generais que ficaram encastelados em casamatas longe do alvo e saíam para passear depois de pretensamente atingirem seus objetivos (alguns iam até de bengala, diz Bill Duggan)iam colher a vitória certa, rigidamente desenhada em seus porões seguros. Foi, claro, um massacre. Hitler e o exército alemão simplesmente retomaram Clausewitz e em 1939 tomaram a Europa em uma semana, graças à guerra de movimento.

Duggan seleciona dez cases em que enxerga o coup d´oeil, ou golpe de vista, ou insight napoleônico. O mais impressionante é o de Bill Patton, o general americano que estudara todas as grandes batalhas da História (assim como Napoleão) e colocou-se em marcha para descobrir como agir no meio do fogo. O segredo era saber qual o ponto ideal do confronto e não colocar ali todas as forças. Era preciso deslocar dois terços das tropas para envolver pelos lados e por trás, o inimigo. Quando este decidisse s e defender desse ataque pelos flancos, aí sim era a hora de confrontar o adversário no ponto focal, que poderia ser uma ponte, uma estrada, um terreno enlameado. Era o que Patton chamava de segurar o nariz do inimigo e chutar por trás ao mesmo tempo.

O erro de Napoleão foi ter escolhido uma estratégia Jomini para atacar a Rússia. Fixou seu alvo, Moscou, e contou para todo mundo. Levou 600 mil homens. Tomou a capital, mas ela estava em chamas. Teria que ter feito como antes, destruir primeiro o exército inimigo para só depois tomar suas cidades. Por isso voltou com apenas 10 mil homens, o que foi sua ruína. Duggan avisa que uma estratégia não garante vitória, apenas pode aumentar suas chances.

Um case revelador é o do banco de pés descalços de Bangladesh, de Mohammed Yunus, que formou-se em economia nos Estados Unidos e quando voltou participou das estratégias Jomini de ajudas dos bancos internacionais. Viu que não dava certo, pois a massa de dinheiro vinha com objetivo previamente definidos. Decidia-se que os fazendeiros deveriam abrir poços para irrigação, mas isso só aumentava o latifúndio. Ou então que o país deveria plantar café. Yunus foi a campo e descobriu que com um pequeno empréstimo poderia tirar multidões de empreendedores das mãos dos agiotas. Mas para isso ele percorreu as aldeias para descobrir seu próprio insight.

Foi um sucesso e copiado em todo mundo, inclusive no Brasil, com resultados diversos, pois mesmo a estratégia de Yunus, sem seus fundamentos, pode virar um perfeito modo Jomini de agir. Os outros cases são: São Paulo, o fariseu que ao perseguir os nazarenos descobriu, na estrada de Damasco, que tinha mais a ver com quem perseguia do que com os que o sustentavam; Joanna D´Arc, que empolgou as tropas francesas sitiadas; Picasso, que misturou as descobertas e experiências de Matisse com volumes, formas e cores, com as máscaras africanas; Ella Baker, que atuando nos bastidores transformou em sucesso o movimento pelos direitos civis dos negros americanos; Alice Paul, a sufragista esquecida que dobrou o presidente americano a favor do voto da mulher; Sundiata Keita, o filho de um pequeno Rei que tornou-se o Rei Leão da antiga Mali; e Yukichi Fukuzawa, que disseminou pelos livros a cultura do ocidente, o que transformou o Japão a partir de 1860.

William Duggan dá cursos de estratégia há vinte anos e publicou outro livro sobre o mesmo assunto, mais adaptado para os negócios. Mas quem disse que empreendedor só gosta de ler livros de negócios? É melhor palmilhar este terreno de batalhas e vitórias, de textos saborosos e que encerram lições valiosas para quem enfrenta, diariamente, a dura batalha pela vida.

RETORNO - Imagem de hoje: o banqueiro popular Yunnus e uma cliente. Uma experiência oposta ao do Brasil.

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