12 de março de 2004

O ÓDIO À LIBERDADE

O regime de 1964, que faz 40 anos no próximo Primeiro de Abril, continua em vigor. Sua principal obra foi a destruição da liberdade dentro das pessoas. Algo quebrou-se no coração (e na cabeça) e o que vemos é uma falsa democracia, que corta o acesso a uma vida decente à maioria da população, já que perdemos o principal, a garantia de uma convivência pacífica entre quem produz e quem depende de salário, entre autoridade e cidadania. O país está em pé de guerra. E o inimigo avança: basta ver o que fizeram com os arquivos do blog Espinha para começar a chorar.

MEDÍOCRES NO PODER - Como todo mundo, eu especialmente, Hélcio Toth pode tornar-se às vezes insuportável. Não é portanto por simpatia ao próximo que defendo sua liberdade de expressão. É por obrigação. E porque admiro o seu trabalho. Ontem, ao fazer uma pesquisa no Google, cliquei no Espinha de determinada data e o que vi foram molduras vazias, como se o magnífico trabalho do nosso artista fosse agora uma casa de fantasmas. E por que? Qualquer porcaria fica para sempre na rede. Por que os belos arquivos do Espinha, datados, cheio de fotos magníficas, registros de momentos da cidade neste começo de século, que serviria para qualquer pesquisa futura para se descobrir como era realmente a cidade de São Paulo em nosso tempo, é destruída de maneira tão brutal? Porque um burocrata/consultor provou que esses arquivos tomavam espaço desnecessário? Ou é simplesmente algo feito de propósito, fruto do ódio à liberdade? O mais grave é que Toth realmente deletou os arquivos para continuar com o seu blog e depois que fez esse corte - porque é uma pessoa responsável, porque queria continuar - foi jogado fora. Isso não é apenas crueldade, é política. É mais do que censura, é terrorismo. Sinal de que pessoas com poder estão de olho na grande massa crítica que aflorou com os blogs. Eles esperavam que isso fosse apenas uma brincadeira de adolescentes, e eis que tornou-se a mídia dos excluídos. Isso é feito para manter o costume implantado principalmente a partir de 1968: a de que não vale a pena opor-se, é preciso adaptar-se à mediocridade vigente. O ódio à liberdade manifesta-se por meio dos incapazes de criar, que assumem o poder de olho em quem sabe e consegue criar alguma coisa. O que é realmente insuportável, para eles, é a capacidade que temos de tirar coelho da cartola. Nossa mágica os deixa assustados. Eles não conseguem entender, já que não desenvolveram a alma e tornaram-se pedreiras desumanas, habitadas pelos mais vis interesses econômicos ( o que é uma burrice, pois poderiam ganhar muito mais dinheiro se pagassem Hélcio para ter seu blog).

FUROS - Dar "furos" - veicular antes as abobrinhas de sempre - parece ser lei em algumas redações de veículos endividados, que compraram a peso de ouro as consultorias, o que faz parte não só do desespero (a curva descendente dos leitores é irreversível, fruto do ódio à liberdade estampado nas matérias), mas possivelmente de acertos internos para ganhar fortunas nas empresas de comunicação, plano que não inclui as redações. A prova de que os jornais não precisavam de jornalistas veio em 1979, com a grande greve que acabou em tragédia. Os jornais continuaram saindo e o que se viu foi início da poda. Uma geração foi sacrificada e as gerações emergentes aportaram em lugares totalmente dominados pelos burocratas. Antes disso, nenhum departamento vinha dar cartas na redação. Havia censura política, mas assim mesmo ainda sobrevivia o jornalismo. Agora cada editoria parece que deve informar quantos furos dá por dia, e dependendo do lugar que ocupa nesse ranking, pode continuar acorrentado ao jornal ou vai se tornar novo militante de blog. Pois acho que estão fazendo o recolhimento no varejão da rede: quem sobrou na "comunicação" (mas que palavrinha chata) e fez seu blog agora está sendo punido. Furo é bobagem, o que vale é a matéria bem apurada para atrair leitura.

RETORNO - TRÊS ALEGRES NOTAS: 1. Recebo mensagem da Comunicação, Cultura e Política , liderada por Denis de Moraes. As atualizações recentes incluem: John Lennon, Milton Santos, Steven Johnson, Julio Cortázar, Dominique Wolton, Paulo Freire, Francisco Fernández Buey, Fábio Konder Comparato, Jacques Derrida, Bernard Cassen, Maria Rita Kehl, Aloysio Biondi, Paulinho da Viola, Panorama de Arte e Tecnologia, Luiz Gonzaga Belluzzo, Umberto Eco. E tem mais : Por uma outra comunicação, organizado por Dênis de Moraes, é indicado ao Prêmio Jabuti de 2004, na categoria Ciências Humanas; Vale a pena ler de novo: Dossiê Jean-Paul Sartre.Comcult rules. É o apreço à liberdade.
2. Amor à liberdade: nosso genial, imprescindível, radical, impressionante artista visual (que chamam de fotógrafo)Marcelo Min está de endereço novo. Deu um chega para lá nos blogs e detona em seu novo endereço: www.fotogarrafa.com.br.
3. Regina Agrella, a fotógrafa da magia do olhar, faz um link para meu texto "A idade adulta do blog". Chama minhas palavras de sábias. E Gim Tones está preparando uma. Aguardem. O solerte repórter policial vai tomar o poder. Medo!!!

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