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10 de fevereiro de 2004
O ETERNO ENCANTO DE LIBRES
Quando anunciavam a possibilidade próxima do fim do mundo, tinha gente na minha terra que imaginava uma solução tão simples quanto encantadora: escapar do Apocalipse era fácil, bastava fugir para Paso de Los Libres. A cidade em frente a Uruguaiana, do outro lado do rio, portal de entrada da Argentina, faz parte da nossa fronteira como alguém da família. Naquele imaginário antigo, Libres já era vista como o início de uma outra realidade, de uma viagem que a conterrânea e empresária Jussara Aymone descreve na bela mensagem a seguir.
ESTILO DE VIDA - “Eu sou apaixonada por Libres e quando a gente chega lá tem a sensação de viajar ao passado, não só pela hora a menos mas pelos prédios, ruas, estilo de vida. Tem ruas com aspecto tão de antigamente que se tem a sensação de estar dentro de um filme ou mesmo em outra época. Adoro o fato de ser vizinha da Argentina pois confio mais neles do que neste Brasil que desde o governo FHC em 1995 não nos permite ter esperanças de vencer ou mesmo crescer na vida. Eles são unidos, politizados e estão superando a crise, vejo isto na quantidade de argentinos que neste ano estão passando por aqui para irem para as praias do Brasil.
Outra coisa interessante de Libres pela cultura do povo é que sendo uma cidade com apenas 50.000 habitantes a gente encontra nas papelarias materiais de desenho assim como papéis importados, esfuminho, lápis, pastel...até em Porto Alegre estes materiais só se consegue em papelarias especiais. O mercado não tem mais aquele monte de bancas, mas a loja "Emilia" ainda existe com aquele cheirinho peculiar de mistura de queijos, azeitonas, bolachinha Criolitas, balas de leite, tudo a granel...
Nos supermercados sempre se vê novidades que ainda não chegaram no Brasil, eu adoro novidades. Ainda existe também o "Buraco", mas o Mercosul acabou com nosso livre trânsito então não se pode comprar víveres assim como frutas, queijos, carnes, batatas. O pessoal daqui compra no Buraco a cerveja, o vinho, o sabão e trazem escondido alguma fruta ou carne. Não existe mais o comércio formiga que ia lá comprar a batata, a cebola e outra coisas convenientes para vender em sua casa aos vizinhos que não tinham acesso a Libres. O Mercosul faz os trâmites pelos céus entre Buenos Aires e SP...e podemos comprar a deliciosa maçã argentina só no supermercado do Brasil. A gasolina continua mais barata lá.
SORVETE EM TAÇA - Libres continua do mesmo tamanho mas com vantagens, o horário é diferente e indo lá as 10 da noite a cidade está iluminada com muita gente sentada nos barzinhos e sorveterias, o comércio aberto e muito povo na rua dando a sensação de grande cidade. Em dias de semana a cidade aqui está morta neste horário pois a Globo rouba a cena...E outra coisa gostosa de Libres é o prazer de se sentar na sorveteria e poder comer aquele sorvete delicioso na taça banhado com chocolate sabendo que não será pesado; o fato de pesar o sorvete matou a sorveteria...aqui fazem fila para as máquinas com gosto de nada.
Quando o filme Titanic foi lançado aqui na nossa cidade não havia mais cinema, então fomos curiosos assistir o filme com todos aqueles efeitos especiais em Libres.O cinema de lá é como em toda cidade de interior que tem a praça principal, de um lado da rua a prefeitura, de outro a Catedral, de outro o Clube do Comércio e de outro o cinema. Era inverno, com o frio marcando zero graus, levamos a garrafa do bom vinho argentino Don Valentin...entramos na sala de projeção e algo estranho nos chamou atenção: os corredores do cinema estavam sendo aquecidos por estufas de gás, tal era o frio da noite e seriam 3 horas de filme...Sentamos e passou o baleiro uniformizado com aquela bandeja pendurada no pescoço oferecendo balas de leite, alfafores, torrones...A luz apagou...as cortinas abriram e fomos envolvidos por um som maravilhoso das propagandas argentinas, como são lindas, bem feitas...Iniciou o filme, claro que não tinha o som de um cinemax... mas eu estava curiosa nos efeitos especiais e isto foi mágico...
CID AO PIANO - É, Libres é assim para mim, me passa a nostalgia que não encontro em nossa cidade. Aqueles bons tempos de Uruguaiana que deves sentir saudades é claro que mudaram pois fizemos parte de uma geração de juventude rica, com poesia, com sentimento onde o amor era lei.
Eu trabalhei muito com filmagens e fotografias de festas no início da década de 90, fiz trabalhos maravilhosos de montagens com música erudita e trilha sonora de filmes e via nos bailes as meninas dançando sozinhas e os meninos com um copo de bebida só olhando... Desconhecem a delícia de dançar de rosto colado...Mas no Clube Caixeral tem estes bailezinhos para casais nos sábados com um conjunto ao vivo cantando Roberta Miranda e todas estas músicas cafoninhas de época.
Quando estivestes aqui notastes que o atual prefeito iluminou e valorizou a praça e ainda existe os footings em fins de semana, mas nada a ver com os de nossa época onde todos nós desfilávamos com glamour. Cid Guez toca e canta no kiosque em fins de semana e fica legal sentar ali para bater papo e acompanhar seu repertório maravilhoso, músicas de nossa época.”
RETORNO – Bebeto Alves, secretário de Cultura de Uruguaiana, anuncia o lançamento dia 21 da revista Fronteira (já tem um tira-gosto no portal Uruguaiana), uma vitória dele, da sua brava equipe e do prefeito Caio Riella. Lá está reportada uma fatia importante da vida uruguaianense, desde o carnaval que veio diretamente do Rio de Janeiro via Fuzileiros Navais (pois lá tem água e fronteira, duas missões da Marinha), até o perfil do inventor Jesus Maria Macuco, um assunto originalmente criado para o projeto da revista Vocare e que hoje encontra pouso num veículo que fará história. Bebeto pegou o touro a unha e fez acontecer um projeto que é um marco cultural, pois somos do Brasil, país que desconhecemos, e precisamos saber como é a vida em todas as bandas deste continente.
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