17 de agosto de 2003

DOIS POETAS














Horizonte de esgrimas”, de Mario Chamie (à esq.) e “O Mundo como Idéia”, de Bruno Tolentino são livros dos dois mais importantes poetas do Brasil. Há outros poetas, também fundamentais, o que seria desnecessário citar, mas a confusão crítica é tanta que deve-se colocar tudo preto no branco: Ferreira Gullar, Hilda Hilst. Prefiro Chamie e Tolentino pelo que conseguem construir, pela proposta das suas intervenções.

São diferentes um do outro, claro. Chamie é o poeta de poetas, o inventor de uma rede, o compositor de inovações que se estendem ao infinito, sem jamais demonstrar cansaço. Chamie é alquimia, Tolentino é arquitetura. Chamie é um processo, Tolentino é uma Obra, a mais bem sucedida por conseguir tornar-se próxima da própria ambição.

Tolentino construiu um castelo, Chamie uma cidade. Para habitar Tolentino, só com brasões herdados ou fazendo uma visita de turista. O detalhe é que o anfitrião jamais aparece. Ele se recolhe nas passagens secretas da sua torre e lá comporta-se muito mal, como um ogro condenado à forca. Chamie criou uma infra-estrutura, estendeu ruas, calçadas e pontes e administra sua urbis com o dedo em riste. Você cruza Chamie, e fala com ele, e de lá sai transformado.

Chamie é mestre de Avis, o burguês que virou rei, Tolentino é Dom Sebastião, o rei que virou mito e jamais aparece, mas deixa atrás de si uma coleção de monumentos imaginários. Em Chamie, percorremos uma avenida de atrações e caímos na tentação da poesia graças à sua oficina exposta em vitrines claras.

Dois impérios, um industrial e outro pertencente à arte da cavalaria, estocam a poesia brasileira derramada em milhões de poetas anônimos.

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