Nei Duclós
Não cabias no mar, luz do espanto. Todas as palavras sumiram com teu lance em direção a mim, coral submerso.
Querias aventura, só tenho sentimento. Talvez aprenda um dia a viagem do coração que finge indiferença.
Bateste o sapato na varanda. Tinhas ido ao pântano conversar com pássaros. Trouxeste um novo canto, que assobias no meu ouvido.
Perdoa o amor que dividimos. Não sei onde estávamos com a cabeça. Talvez no lugar mais perigoso, o coração.
Éramos dois, agora somos um. Ninguém diferencia rostos que se beijam.
Quando a Lua cheia se foi, deixou um rasgo no céu que tento consertar pondo o curativo do teu sonho.
O amor é uma experiência.
Depois passa. Dá lugar à auto-suficiência. É quando rimos dos sonetos e das frases românticas. E voltamos a ser a estalar os dedos. Até sangrarem noite adentro.
Quando consentes posso ver, disse ele. Quando consinto, do verbo sentir, disse ela.
É bem vagarosa essa tua vontade de descer o que te protegia. Escaldada, talvez, de outros ritmos. Mas é possível que seja só o prazer de me ver te acompanhando até que tudo caia sobre o piso.
Demorei porque precisava reciclar minhas torres de marfim, arrumá-las para te receber. Agora sim, cruze a casa com tua saída de banho.
O céu é o piso da Lua. Cada lugar tem seu forro. A praia é para onde o sol se esconde atrás do morro.
Fazer poesia é fácil. Basta enfileirar algumas palavras. É como matar formigas.
Nei Duclós