31 de julho de 2023

EL PUENTE Y LA CUEVA

 Nei Duclós 


En el puente donde trabajas

Con tus flores para bodas

Paso yo, enamorado

Lejos de tus ojos y abrazos


Voy a la cueva del monte

Alla cultivo rosales

Soy jardinero morocho

Con esperanza muy rara


Quiero casarme contigo

Para que no sea tarde

Dar-te palavras de oro

Para un futuro milagre


Es muy poco, es como aire 

Pero tengo manos dulces

En mi vida tan amarga


Diga que si , mi serrana

Que en el puente trabaja

Las rosas que yo cultivo

Son de una cueva sagrada


Nei Duclós

HORIZONTE

 Nei Duclós 


Um pouco de amor distribuo ao redor

Há quem aceite na bela manhã de sol

Água corrente que nunca para de ser

Vida contente diante do azul do céu 


Pássaros vencem a distância maior

De um outro continente

Viajam sem espanto

Pelo gosto de viajar

Pousam na minha frente

Quando o poema se faz 


És inocente ao repartir tua voz

Dizem solenes os mandarins do poder 

Singelo, me acusam sem dó 


Mal sabem que o poema simples

Da pompa é o mais distante

De estar sempre por cima 

Dando as cartas sobre a mesa 

A que decreta duros mandamentos


Vestir o sonho numa esplêndida estação 

É obra de um espadachim

Venha te mostro o que está fora de mim

Esse horizonte feito de um só  coração 

Que a Deus pertence

Mas que é nosso treinamento

Para a vida eterna deste único monento


Nei Duclós

MILAGRE

 Nei Duclós 


Mulher é o milagre

Não busquem outros exemplos

Não por atender teus desejos 

Mas pela sua têmpera 

Plena de glória efêmera 

Força da Criação extrema


Rainha de um trono trêmulo 

Suspira quando convence 

Grita ao mover a espécie 

Chora para ensinar as pedras


Fugitiva de qualquer poema

Não se enreda em elogios de festa

Reage no excesso de vento

Ama quando ninguém está vendo


Mulher, nunca se rende

Noiva de quem a surpreende

Dança conforme a lenda

Passa, no lugar de sempre


Nei Duclós

CALADO

 Nei Duclós 


Por que será que eu me manifesto?

Em vez de ficar em silêncio, como as plantas

Que produzem seus frutos e depois secam?

Fico metendo o bestunto

Onde não sou chamado


Para me evitar se trancam, ficam de lado

Ou passam voando enquanto falo para o vento


Vivo onde não me querem

E ainda perguntam quando vou embora 


Pior que não me toco

E sempre dou um jeito de marcar presença

É quando me olham com vergonha alheia se entreolhando


Se tento chegar mais perguntam: tu por aqui?


Não me refiro à solidão 

Estou sempre acompanhado

Mas à falta de razão 

De existir, sem que me notem


Se reclamo caem em cima de mim, espantados

Egoísta, autocentrado, me dizem

Com todo mundo é assim  

Somos uma população de Invisíveis 

De gente errada


Então me calo

É o meu jeito de ser solidário 


Nei Duclós

28 de julho de 2023

TEMPO DE LUA

 Nei Duclós 


Demora a amanhecer, não pela minha insônia 

Mas porque o Tempo é  caprichoso e desaparece

Estrela dos momentos, fica fazendo hora

e se faz esperar

quando mais se apressam


Anda para trás nas tardes monótonas 

Passa voando se você for bem moço 

E se instala na varanda quando ficas velho


O Tempo é uma ilusão, dizem nas modinhas 

Enquanto passam cremes e chás de multiervas

Nos rostos tardios da pele sem remédio 


Não tenho mais Tempo, dizem sem critério 

Os viciados em compromisso e  sempre na véspera


Depois não entendem porque não amanhece

O Tempo obedece, dá um tempo por vingança

Vocês que esperem, diz com a língua de fora

que hoje é  lua cheia e o que mais quero

É que ela permaneça e nunca vá embora


Nei Duclós

ESTOQUE

 Nei Duclós 


Amor não economizo 

Nem estoco para o inverno

Para algum dia festivo

Em data a ser celebrada 

Não abro espaço no armário 

Ou na estante de livros 

Como história a ser contada


Vivo o amor no presente

Que no uso não se gasta 

Não fica para semente

Ou mesmo o próximo bloco

Amor não pode ser visto

Como cédula no cofre

Que se investe a futuro

Amor já é o próprio lucro

De capital garantido

Amanhã estará frito

Como chance em desperdício 


Melhor repartir agora

Para evitar recaída

Remorso por ter fugido

Do amor que ninguém se importa

Era só amor, todos dizem

Nenhum valor nos consola 


Nei Duclós

24 de julho de 2023

O SUSTENTO

 Nei Duclós 


O amor não cria raiz no vento

No que passa e não deixa rastro

Mas na terra adubada pelo tempo

A palavra que fica e dá sustento


O amor apaga a ilusão da balada

A festa provisória e seu remorso

E gera a planta que em teimosa pedra

Se alimenta


Não fale em nome do amor como confidente

Me dizem quando espalho no poema

Esse visgo em visita à eternidade


Posso falar mesmo sem decreto

Porque sobrevivi e estou desperto

Acho água no coração deserto

Navego onde falta mar e não há velas

Só o leme desta lucidez amarga

A seguir o sonho de existir para sempre


Nei Duclós

ADMIRAÇÃO

 Nei Duclós 


Não sou teu amigo mas sinto saudade

do teu jeito sincero sem intimidade

Escorraças pretendentes sendo rude

Com tua liberdade de amarga beldade


Gosto quando me tratas à distância

Sem rosnar, pois já sabes

que não invado e tenho jeitão nobre

apesar de pobre, escriba entre milhares


Poderia arriscar, te chamar às falas

e assim queimar as escassas reservas

Mas seria em vão, indiferente fada


Prefiro a solidão a ser excluído

Admiração que é puro sacrifício


Nei Duclós

PAIXAO

 Nei Duclós 


Não julgamos tua indiferença 

Somos o teu coração, estrela

Passas longe do que te oferecemos 

É só amor, mas parece outra coisa


A inveja diz que exercemos a obsessão 

E que queremos apenas chamar a atenção 

Sem notar que nessa relação tudo perdemos


Não nos interessa a fama

Forçar um encontro, como o Beijoqueiro

Sermos reduzidos a pura imitação 


Seríamos nessa visão meros delinquentes


Essa reação é porque nos apaixonamos

Pela artista que não nos pertence

E que nos transcende neste mundo cão 


Nei Duclós

POLEIRO

 Nei Duclós 


Fotografo pássaros

Só com a palavra

Porque eles escapam


Não entregam o segredo claro do voo

Se empoleiram

Por alguns segundos

E quando ouvem um clic

Dão por encerrada a sessão


Depois cobram cachê 

Em alpiste 


Nei Duclós


ADEUS

 Nei Duclós 


A alma parte para o outro mundo

Depois de, neste, permanecer oculta

Acreditam que exista, mas não muito

Preferem dizer que o corpo faz tudo 

Na forma do Acaso, o Deus insubmisso


Mas a alma independe da dúvida ou da fé 

Por isso parte quando se vê livre

Podemos seguir seu rastro no crepúsculo 


Nei Duclós

19 de julho de 2023

FLAMENCO

 Nei Duclós 


A dança do flamenco são gestos de ameaça

De corpos que giram e se retorcem

Como a buscar ou livrar-se de alguma coisa


E quando encontram jogam o rosto para cima

E quando perdem se atiram em abismos Invisíveis 

  

O ritmo metálico do sapateado é de um coração dentro e fora do compasso 

Os braços voam imitando os pássaros

E os dedos escolhem no ar pérolas amontoadas


De longe parece um surto 

não fosse a extrema beleza desta arte

Impulsionada por gritos e guitarras

E pontuada por vozes que se espicham até o delírio


Pois o destino da dança exercida em palcos, casas e praças 

é atingir o impossível para criaturas datadas

O êxtase, que fica preso num gesto fulminante

Num rompante que ilumina a cena humana

E só a palavra sem raízes, adventícia, estranha

Poderá abraçar além da conta


Nei Duclós


17 de julho de 2023

ESTRELA

 Nei Duclós 


Não gosto dessa rotina de estrela 

Que compartilhas com inúmeras plateias 

Fazendo propaganda de perfumes 

Em lojas virtuais de cinderelas

Assumindo papéis que não condizem

Com teu coração que para mim entregas 

E me deixas esperando até que a noite

Estenda seu tapete persa

Sobre meu corpo exausto de promessas


No fim desisto. É quando chegas

Cheia de gás acumulado em passarelas

Para me atear fogo enquanto durmo

E sonho com o amor que tu me negas


Nei Duclós

TESOURO

 Nei Duclós 


Qual a cor dos teus olhos?

Comparo à alvorada em campo aberto

Ou de uma praia de esplêndida memória

Comparo ao melhor momento de uma vida plena 

Como fiapos de nuvens ao redor de uma estrela

Solitaria que aparece mal morre o dia 


Cor de mel e rosa morena

Brilho fosco de milho maduro 

Roupa de cristal que reflete a primavera em flor no muro 


Cor de dentro, da alma presa a uma promessa

Teus olhos que costuram a túnica do amor

Nosso tesouro


Nei Duclós

16 de julho de 2023

MARGEM

 Nei Duclós 


Não se estrague nas perdas

Não se rasgue

Não se mate na margem seca

Não se acabe

Mantenha a forma

Mesmo frágil 


Não gaste o aço 

Da sua coragem

Preste homenagem ao que se foi

Sem baixar a guarda


Não perca a batalha


Nei Duclós

15 de julho de 2023

MAR ADENTRO

 Nei Duclós 


Lanço-me à  aventura no barco grosso

Feito de árvores no seu começo 

Arbustos frágeis mas é o que temos


 Foi-se o naufrágio, quase morremos

Somos teimosos, sobrevivemos

À chuva, o frio e as doenças 

E hoje a ilha já vai distante


Bem devagar nos aproximamos

De nossa crença de um novo tempo

E que há um Deus por trás de tudo

Jugo de amor apesar de bruto


Somos tão poucos mas vela e remos

Nos levam longe onde houver chance 

Quem sabe a Terra, Paris ou Londres

Quem sabe o sonho por mais estranho


Dependemos do vento e das estrelas

Dependemos da bússola

Feita de arame

Dependemos da sorte no mar adentro

Dependemos do corpo, rota suprema


Dependemos da vitória, que jamais chega

Cais da esperança onde pousamos

O rosto amargo no ar espesso


Nei Duclós

14 de julho de 2023

TRABALHO

 Nei Duclós 


Se digo que trabalho

Em todas as formas da palavra

Virando madrugada

Dedicando tempo para decifrar as obras

E  compondo livros que ficam estocados

E que não cobro pelo serviço 

E vivo de ações  solidárias 

E que por isso me submeto de graça 

À oferta de serviços 

Públicos 


Então me olham e dizem que isso não é trabalho

É coisa de aposentado


Nei Duclós

10 de julho de 2023

ADEUS À MOCIDADE

 Nei Duclós 


Leio assustado sobre o esforço que alguns bilionários fazem para rejuvenescer

Eles tem medo de ficar velhos


Eu ao contrário tenho medo de voltar a ser jovem

Incomodar os pais

Falar merda colocando pessoas próximas em risco

Ir a eventos exibindo com orgulho um aspecto deplorável

Fazer desaforo nos empregos que joguei fora

Fugir dos compromissos

Descuidar da própria literatura

Esnobar amizades verdadeiras

Deixar passar as oportunidades

Desperdiçar talento achando que é coragem


Por isso sem nenhum esforço 

Envelheço devagar com uma sensação de alívio

Não que esteja totalmente curado

A qualquer hora posso voltar a cometer uma bobagem

Esquecendo meu adeus à mocidade


Nei Duclós

8 de julho de 2023

CAMINHOS

Nei Duclós 


Fui levado pelas mãos 

Para as refeições, o colégio, as igrejas


Fui levado pelas mãos 

Para a capital, o emprego, as paixões 


Fui levado pelas mãos 

Para a comunhão, o amor, os filhos 


Nada fiz sozinho

Parentes, professores, amigos

Me deram as mãos 

Todos me cercaram de caminhos


Hoje vivo isolado na poesia

Para onde fui parar

Conduzido por autores de livros 

Os que escrevem com o coração 

Infinito


Nei Duclós

6 de julho de 2023

HÁBITO

 Nei Duclós 


Permaneço escondido, como de hábito 

Mostrando a cara, sem perder o costume

A poesia tornou-se um dos andares

Do edifício ao qual não tenho acesso 


Virei saltimbanco, sem ocupar o espaço 

Que também está loteado, o dos incompreendidos

Premiados pela pose de palhaços


Sou mendigo raiz, produzo sem fazer contatos

Não vou a eventos, prefiro os pássaros 

Que migram dando lições de liberdade 


Vire a lata do lixo, lá está o poema

Sangue em conta gotas, como de praxe

Teu coração aplaude sem som ou imagem

Tudo se repete na solidão da arte 


O tempo não registra, avesso a vaidades

De quem deveria existir mas só se afoga

Mar sem saída do anonimato


Nei Duclós

4 de julho de 2023

ESTRADA

 Nei Duclós 


Publico versos que eu esqueço 

Depois revisito, mas não mereço 

Esse dom que parece especial

E é só o preço 

Que pago por nascer escravo 

Último servo da guilda, o escriba

Torto cabedal de biblioteca


Arrasto os pés no roto piso

Estuário de livros abandonados

Tropeço em folhas em tom sépia 

Marcas do tempo onde calado

Escrevi na carne da promessa


Nada levo e deixo muito pouco 

Passei em vão a vida sobre a terra

Carrego o pão para comer na estrada


Nei Duclós

NUVENS

 Nei Duclós 


Fui herói, quando me enxergaste pela primeira vez 

Fora do meu perfil de ser precário 

Achaste o máximo ao me ver no palco

Depois foste embora quando perdi a mágica 


Agora és feliz nos aniversários

Em fotos sorridentes

Tiradas sem remorso

Enquanto eu continuo vivendo ao largo

Entre gaivotas e nuvens, que são as palavras

As mesmas que usei no meu tempo heróico

Quando tive sorte 

E por ti fui inventado


Tenho esperança 

De resgatar-me estátua 


Nei Duclós

3 de julho de 2023

MILAGRE

 Nei Duclós 


Ela se deixou tocar

Milagre de um encontro que no excesso se completa

Eu já estava deixando escapar

Sem noção do que ela tinha armado

Na conversa


Sou o último a saber quando me querem

SEMENTE

 Ela disse que não vai morrer

Que vai ficar para semente


Gostaria de plantá-la 

Assim nunca me faltaria amor


Nei Duclós 

2 de julho de 2023

IMPERDOÁVEL

 Nei Duclós 


Tomei todas as decisões erradas

Sai quando devia ficar

Fiquei na hora de sumir

Menti para me prejudicar  

Fui sincero e não precisava me expor

Rompi no momento de insistir 

Travei na urgência de acelerar

Lembrei o que para sempre esqueci

Comentei sem me aprofundar

Desisti por uma questão de princípio 

Recolhi o que joguei fora

Almejo o que nunca foi para mim

Sonhei em situações reais

Perdi o jogo antes da vitória certa

Achei o que jamais procurei


O pior é que em vez de sentir  remorso para ganhar tempo

Decidi abrir mão de todo arrependimento


Nei Duclós