Nei Duclós
Não me importa a carreira literária
Participar de eventos, feiras, palestras
Já corri atrás e deu em nada
Um autor está só, como casa no deserto
Achei que poderia somar com meus pares
Mas estão ocupados em tardes de autógrafos
Viagens ao exterior, prêmios, virtudes
Todos são do bem, apesar das vaidades
Também não quero exercitar vanguardas
Ou pagar pau para poesia clássica
Tenho meu jeito de escrever atrapalhado
Tudo será esquecido no tempo onde tudo morre
Deveria me dedicar a algum hobby da terceira idade
Cultivo de flores, insultos ou conselhos, uma espécie de padre
Ensinar como funciona a suprema arte
Levar tapinha nas costas, ser paparicado
Mas rosnar é da minha bruta natureza
Negar as ilusões da notoriedade
Suportar a artrite, a dermatite, a erisipela
Esperar o fim do verão e xingar o inverno
Não vim à terra a passeio
Quero a lucidez e a devoção dos santos
E teu pobre coração, beldade sem cuidados
Que desce em meu amor, único legado
Nei Duclós
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