Morre Valdiram em situação de rua
no sábado de Aleluia
Vindo de Pernambuco, do Brasil profundo
vestiu a camisa do Vasco ao lado de Romário
Foi espancado na Cracolandia em São Paulo
Talvez por vingança
Por lembrar aos parceiros de infortúnio
o quanto era especial por ter chegado ao Maracanã depois de
uma infância pobre
Teve sua chance, dirão os indiferentes do país sem
misericórdia
Os que passam de olhos fechados para a via crucis de quem
foi herói por ter se superado
E que experimentou a queda até sucumbir aos 36 anos
Morre Valdiram em situação de rua
no sábado de Aleluia
Fez a passagem na véspera de um domingo
Jogou e foi jogado
da página dos Esportes para os obituários
Quem se importa com um brasileiro a menos na estatística dos
assassinatos?
Não serei eu, que faço o poema sobre o irremediável
depois que a gruta fecha sobre a carne
Esse silêncio nos terrenos baldios onde jogávamos futebol
em duelo com a glória
Nós, os eternos deserdados
Nos campinhos que abrigavam futuros craques a chutar um
sonho até depois de escurecer
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