Nei Duclós
- Vamos interditar seu restaurante, disse o fiscal.
Contraria as leis da higiene.
- Faço trabalho social, disse o Chef Comunista. Cobro caro
por pratos condenados. Gero emprego e renda apenas com a aparência. Queria que
eu passasse sabão na codorna ao vinho rosé?
- O sr. faz piada com o socialismo, mas na hora do paredón
quero ver, disse o militante.
- Estou deixando crescer a barba e comprando caixas de puros
baianos, disse o Chef Comunista. Não fuzilam quem tem barba e fuma charuto.
- Por que os garçons não atendem em vez de ficarem
balançando bandeiras? perguntou o freguês.
- Estamos em campanha, disse o Chef Comunista. Todo poder
aos soviets.
- Parabéns! Está uma delícia este suflê de quiabo com
jerimum, disse o admirador de pratos exóticos.
- É nossa meta política, disse o Chef Comunista. O Nordeste
em Paris.
- O sr. está publicando suas frases nas redes sociais, disse
o seguidor. Se acha muito engraçado?
- De maneira alguma, disse o Chef Comunista. É que depois de
tanta asneira política me senti no direito de dar minha contribuição.
- O sr. é uma contradição ambulante, disse o psicólogo. Como
pode ser comunista dono de restaurante chic?
- Alguns são mais iguais do que os outros, disse o Chef
Comunista. E aproveito a clientela para estudar a decadência do capitalismo,
principalmente na hora de receber a conta.
- Duvido que o sr. tenha lido o Capital, de Marx, disse a
scholar.
- Verdade, não li, disse o Chef Comunista. Mas conto as
notas todo fim de expediente.
- O sr. gostaria de viver na época do Império Romano?
perguntou o historiador.
- Depende do lugar que vou ocupar, disse o Chef Comunista.
Como escravo, nem pensar.
(piada do meu amigo barbeiro de SP, o inesquecível Giuseppe,
que atendia ao lado do parque Trianon).
- O sr. faz parte do lixo da História, disse o capitalista.
- Mas sou reciclável, disse o Chef Comunista. É como o prato
caríssimo que lhe servi: voltou do monturo nos braços do povo.
- O sr. sonha em tomar o poder? O que vai fazer com ele?
perguntou o cético.
- Vou manter a escrita, disse o Chef Comunista. Desviar
tudo, mas em nome do povo e do estado de direito.
- Quando o sr. saiu da cadeia? perguntou o repórter.
- Fui anistiado, disse o Chef Comunista. Mas tive que roubar
para continuar solto e agora eles querem me pegar de novo.
- Não vou pagar a conta, disse o senador.
- É justo, disse o Chef Comunista. Nem vou chamar o juiz
para não acabar preso.
- Meu pedido está demorando, disse o militante.
- Tivemos antes que derrubar o Kerenski para só depois
invadirmos o Palácio do Inverno, disse o Chef Comunista. Mas depois que vier o
sr. não se livra mais dele.
- Onde está o almoço? perguntou o comerciante rico.
- O st. já consumiu, disse o Chef Comunista. É aquele resto
de mais valia que o sr. confundiu com acepipes e que ganhou uns galhinhos de
ervas finas em cima para provar que é chic.
- Isto aqui é uma gororoba metida a besta, disse o poeta
reclamando da sopa.
- É como poesia ruim, disse o Chef Comunista. É intragável,
mas ganha prêmio.
O condenado pediu filé com fritas.
- Só temos carne de gado confinado, disse o Chef Comunista.
E as batatas estão por vir. Foram encomendadas por decreto.
- O que prega o Manifesto? perguntou o Chef Comunista para o
aspirante a ajudante de cozinha.
- A democracia do proletariado, disse o garoto.
- Está contratado, disse o Chef Comunista.
-
- Este peixe está estragado, disse o freguês.
- São anchovas de Stalingrado, disse o Chef Comunista. Para
serem consumidas depois do quinto mês do cerco. Tem coisa pior, quer
experimentar?
O Conde foi jantar no restaurante do Chef Comunista.
- Feijão com arroz? estranhou o Conde.
- A la Sierra Maestra, disse o Chef Comunista.
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