1 de outubro de 2012

FLOR NA PEDRA

Nei Duclós

Chega a doer o que tens de entrega, esse corpo que abres, meu privilégio, esse encaixe de flor na pedra.

Lua bonita, trazida com laço noturno. Luz de tontura de um olho perdido.

Até hoje eu lembro. Sinal que o tempo se guarda como um presente.

Peça ajuda a quem te assiste: peça para que me expulsem antes que eu te faça feliz.

Não se assuste com minha vontade: sou sempre assim, fora dos recortes.

Guardei o melhor para esta tarde: um abraço bruto de surpresa que desmonta teu andar produzido no capricho.

Repeti o poema, algum problema? Tem manhãs que o verbo pula da estante

Fomos treinados para o vazio. Precisamos voltar à fricção para gerar fogo, como aconteceu na era glacial.

Chove no céu interno depois que encharcaste as nuvens com teu adeus noturno.

Esqueceu o que lhe disse. Tomou um trem para Júpiter. Fiquei acenando de um vulcão ativo até me consumir no precipício.

Por ti faço sacrifícios. Passo horas olhando o teto. Me reviro em colchões de vime. Espero a hora que virás, no século seguinte.
 
 
RETORNO - Imagem desta edição: Joan Fontaine.