22 de fevereiro de 2011

ARITMÉTICA


Nei Duclós (*)

A Rússia já tinha a Sibéria, para que o Alasca? Ruim de finanças, o czarismo acabou vendendo essa espécie de Amazônia gelada, a terra grande, como diziam os nativos, por US$ 7,2 milhões em 1867, equivalentes a US$ 1,6 bilhão hoje. Foi um excelente negócio. Hoje, a Amazônia brasileira deve valer o R$ 1,6 trilhão da nossa dívida externa. Ou pelo menos uma área do tamanho da reserva Raposa do Sol.

Pagaremos um dia a dívida com o patrimônio territorial, dizia Darcy Ribeiro. Estamos chegando perto. O governo passado dobrou a divida externa, que antes estava por volta de R$ 800 bi. A solução foi maquiar a operação. Colocaram na roda as reservas, que abateriam o total. Deu tão certo que chegamos a “emprestar” para o FMI.

Quando criticamos a política econômica, pedimos desculpas por sermos leigos no assunto. Não deveríamos. É pura aritmética, que se aprendia antigamente no primeiro ano do Primário. É como livro caixa de armazém de secos e molhados. Quanto entra e quanto sai. Óbvio que sai aos borbotões, principalmente se pagamos juros estratosféricos para quem coloca papel pintado estrangeiro por aqui.

Essa é uma mágica incompreensível. Por que se faz tanta questão dos tais investimentos especulativos, se eles sempre tiram mais do que põem? Movimentam a economia? Mas não seria razoável movimentar a economia com o que repassamos para os especuladores? Como é óbvio demais, coloca-se um sorrisinho de superioridade nos especialistas, alguns pigarros dando sinais para calarmos a boca, e a espiral continua roendo a nação.

Todo esse rombo não é levado em conta nos cálculos da inflação, pelo menos não entram nos debates como deveria. O destaque é a influência nefasta do salário mínimo na carestia. Se aumentarem meio centavo de uns 40 milhões de salários, a hiperinflação nos comerá pela perna. Isso é levado tão a sério que ficamos mudos diante das certezas ditas em tom definitivo.

“Sei que vocês não aprenderam nada até agora”, disse uma vez o Professor Dau, que lecionava matemática no terceiro científico do Colégio Rosário de Porto Alegre. “Portanto, vamos começar do início: 1 + 1 = 2”. Precisamos voltar aos fundamentos. Ou perderemos muito mais do que um trilhão de hectares de selva.


RETORNO - 1. (*) Crônica publicada nesta terça-feira, dia 22 de fevereiro de 2011, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem desta edição: tirei daqui.

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