8 de outubro de 2005

FICOU PIOR



Agora sim piorou. Todos justificam a barbárie em nome da ética. Preste atenção, dizem a cada minuto, num coral de razões insuspeitas, de carreiras virgens, de virtudes paradigmáticas. A sabedoria, vinda do estudo e da experiência, foi substituída pela casca do politicamente correto e todos os dedinhos se levantam em direção à próxima vítima. O novo fenômeno convive com as autocríticas deslavadas. Erramos, dizem, mas jamais mentimos. Os caçadores de bruxas deitam e rolam. Enquanto essa dupla execrável, Zezé di Luciano e Cagardo, é incensada pela mais avassaladora campanha publicitária de todos os tempos, enquanto esses dois se esgoelam na música filhota da mexicana berrando coisas, a grande presença da música popular brasileira que é Maria Rita é envolvida por sórdida matéria da Veja, que denunciou, ora vão plantar batatas, o jabá da Warner, que mandou um aparelho para ouvir MP3 de presente para 30 jornalistas. O problema não é o jabá, que sobra nas redações importantes há décadas e ninguém fala nada. É que o jabá precisa ser maior para seduzir essa minoria das redações. Tem jabá demais nos poucos veículos considerados importantes. Então uma dessas redações se dá o luxo de fazer denúncia, enquanto deixa passar a sacanagem que é implodir a paciência de todo mundo com essa campanha pelos filhos do Francisco. Pior ainda é o textículo da Veja reduzir a crítica ao novo disco de Maria Rita (que seria, em tese, o objetivo da matéria), a estas poucas palavras entre parênteses: (que, aliás, é bem ruim). O que significa isso?

CARISMA - Maria Rita foi acusada de "Elis genérica" (como são nojentos!) pela matéria apócrifa, dizendo que a cantora emulou a mãe para obedecer ao marketing da gravadora. Isso é de uma brutalidade sem fim. Maria Rita é talento puro e faz parte de uma cultura que se recusa a morrer. Talvez seja por isso que houve toda essa baixaria: a mediocridade fareja o talento e sempre está disposta a dar uma cacetada quando ele se manifesta. Maria Rita é um fenômeno. Empolgou o público com apenas um CD. Tem carisma, tem força e tem repertório. Com os filhos do Francisco, vai tudo bem, não é mesmo? Eles representam, além do enterro da sonoridade nacional, a frustração artística do pai (bem ao contrário dos pais de Maria Rita) que meteu goela abaixo os dois bobalhões com ajuda também do marketing (primeiro por conta própria, depois com o apoio das gravadoras). Todos acham uma gracinha. A dupla se arrebenta destruindo tudo que é canção, enquanto Maria Rita é a sofisticação da cultura popular, uma manifestação do Brasil soberano, o que ensina os outros países a cantar e a fazer música. O fato de seu disco ser lançado em 50 países é porque ela é excepcional e maravilhosa e não porque é filha da Elis, ou emula a mãe ou faz qualquer ato obsceno sugerido pelo jornalismo de aluguel.

AMOR - Eles tem ódio do talento, porque o talento os desmoraliza. Apodrecem em redações vendidas, fazem campanha contra a democracia, calam-se no tempo dos tiranos, se submetem a tudo, ao horror da televisão, às sacanagens do marketing, a tudo. Por isso não podem perdoar o canto perfeito e contundente de Maria Rita, que coloca todo o seu amor no seu novo disco, inspirada pela maternidade que , segundo suas palavras, deu foco à sua vida. Imagino o quanto toda essa porcaria esteja afetando a grande intérprete que, não por acaso, chegou para nos aliviar da dor deste país destruído pelas ditaduras. A desfaçatez política reina em todos os estamentos, dos campos de futebol ao Congresso. Agora liberou geral: roubam, sim, e vão abafar tudo, sim, e calem-se. Os irmãos do prefeito assassinado de Santo André encarnaram o dilema de Hamlet. Eles denunciam que o chefe do gabinete do Planalto entregou o esquema de corrupção no PT, no qual o prefeito estava envolvido. Esperava-se que os irmãos se calassem , já que o morto tinha culpa no cartório. Ser ou não ser? Ser, foi a resposta. E foram à luta. Disseram tudo com todas as letras. Ficou pior: parece que vai ficar por isso mesmo.

RETORNO - Jovem ensaísta faz longo texto sobre a poesia brasileira. Não me cita. Trocamos, publicamente no seu blog, mensagens sobre a exclusão. Ele se justifica dizendo que prefere ser como Baudelaire, parcial. Pobre Baudelaire. Também diz que lê "muita, muita" (a repetição é dele) poesia, mas jamais ouviu falar de mim. Replico que meus livros foram apresentados por Mario Quintana e Mario Chamie e meu nome tem mais 600 ocorrências no Google. Esse comentário não foi publicado no seu blog. Ficou assim com a palavra final: não te conheço e se quiseres manda teus livros. Não vou mandar nada. Quem perde é o ensaísta e não o autor. Exclusão: ficou pior.

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