12 de junho de 2004

BOSSA NOVA COM TAINHA


Tenho sorte e consigo ver a operação completa. Dois barcos de grossa madeira levam em cada um deles rijos remadores, que descem na praia, separados cada grupo por uns cem metros e puxam a rede. As gaivotas não dão bola e todos desconfiam o que afinal acontece: apenas cinco tainhas dão as caras. Foi um dia atípico. Nesta temporada de muitas toneladas de peixe pode-se comê-las de todo jeito, principalmente escutando bossa nova.

ESCREVER SEM PATRÃO - Depois de Kajuru, a ditadura civil agora demitiu Alberto Dines do Jornal do Brasil. Não permitiu que ele tivesse um emprego na grande imprensa e liberdade total na Internet, no site do Observatório da imprensa. A verdade é que todos nós ficamos livres demais para prestar contas das nossas palavras. É o fim da mordaça. Toda essa liberdade exercida na rede fatalmente terá que extrapolar para a mídia impressa, que se ressente de um número cada vez menor de leitores. As mídias consideradas normais estão um desespero só. Quem aguenta o dia dos namorados? É um massacre total. Não há noticiário, apenas publicidade. Incentiva-se o espectador a comprar celulares para seus namorados. E o pior é a velharia metida a namorar. No lugar de vermos a juventude no roça-roça, lá vem a quinqüagésima idade dizendo que agora sim podem namorar à vontade. Vão raspar uma lixa. Não se dá espaço para nada aos jovens. Estes, precisam usar a violência para se fazerem notar. De um lado, temos o silicone e a beleza sob suspeita do bisturi; e de outro a velharada cheia de assanhamentos. Pois a vida sexual não interessa a ninguém, a não ser aos envolvidos na dita. Por que não cuidam de fazer reportagens, por exemplo? A toda hora colocam link nos shoppings, como se isso fosse jornalismo. Quando há alguma massa crítica, pumba, demissão. Isso chama-se ditadura civil.

BRASIL TOTAL - Músicos americanos reunem-se no Brasil e confessam que a bossa nova mudou o jazz para sempre, dinamizou a música deles. Um pianista de 24 anos (escrevo sempre de memória e costumo esquecer nomes) descobre que a bossa nova é muito mais do que um movimento é algo mais profundo, bem diferente de um jazz-mambo, por exemplo. A bossa mexeu com a estrutura da música, bebeu em raízes profundas, do samba ao jazz e nos libertou do cucarachismo militante (aquela coisa gritada). Depois dela, foi decadência só. O que chamam de música sertaneja, e que podemos batizar de sertanojo, é música cucaracha mexicana disfarçada de música brasileira. A música regional brasileira, além de maravilhosa, também sofre uma revolução completa pela mão de grandes músicos como José Gomes. A verdade é que a revolução desencadeada por Villa Lobos mudou a música erudita e transformou a música popular, pois tornou-se insumo de compositores e interpretes que levaram adiante a revolução. Somos assim, por isso somos os melhores.

PORTA-AVIÕES - À parte isso, um gigantesco porta-aviões americano chega na Baía da Guanabara numa demonstração de força. Os mariners resolvem fazer caridade nas favelas (por que não vão se roçar num cacto ou deixar de cobrar juros estratosféricos para dívidas impagáveis contraídas por aliados criminosos?). Uma delas, de uniforme muito branco, confessa que nunca tinha visto antes uma montanha. Pobre povo, esse americano, destruíram o que tinham de natureza e hoje vivem num deserto de dólares. Aqui, vemos o mar no inverno para que possamos admirá-lo sem cair em seu sal, vestindo calção de banho. O mar não se presta apenas ao nosso usufruto extrativista de verão. No inverno, reveste-se de uma dignidade diferente e nos avisa o quanto continua majestoso mesmo quando não nos lava o corpo. Olhamos para o mar e vemos os pescadores nas suas águas tirando o sustento a muque. Grande Brasil, país como nenhum outro.

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