28 de dezembro de 2024

VAZIO

 Nei Duclós 


Toda hora morre alguém 

Perda geral permanente 

Foto na linha do tempo

Lembrança junto com o choro 


Filho que se vai cedo

Avô cada vez mais seco

Amigo que migrou para longe

Cônjuge em bodas de cinzas


Toda hora morre alguém

Deixa um vazio sem sossego

Vivemos rumo ao desfecho

Deus assiste no deserto


Nei Duclós

23 de dezembro de 2024

A POSTOS

 Nei Duclós 


A vida é indiferença e esquecimento

Indefinivel momento

Entre a perda e o ganho


Só da palavra apanha

Do orgasmo para o remorso


A vida está a postos

Componha


Nei Duclós

20 de dezembro de 2024

IDADE

 Nei Duclós 


Mocidade é provisória 

Nascemos para ficar velhos


A velhice é a idade permanente

Que se anuncia em pânico no cabelo branco

Depois chupa o corpo como uva passa

E passa rasteira no passo


É eterna a terceira idade 

Dar milho aos pombos ao sol do inverno

E quando tiver sorte, lembrar


Não saímos dela

Nossos fantasmas não exibem o que fomos

Antes expressam a mão pesada do tempo

Sobre nossa vaidade


Nei Duclós

17 de dezembro de 2024

ESPERA

 Nei Duclós 


Só cuido da tua beleza, do resto abri mão 

Teu talento desviado pela carreira 

Ficar sempre disponível para os marmanjos

Em cenas explícitas sem motivo

Teu andar de pistoleira nas franquias 

Teu ego excessivo no marketing da hora


Tua beleza permanece, esplêndido paradigma

É nela que eu visito sem pagar ingresso

Meu amor te espera pois tudo passa

E voltarás chorosa, gloriosa primavera


Nei Duclós

14 de dezembro de 2024

GALOPE

 Nei Duclós 


Vivi tanto e foi tão pouco

Chegar ao fim me apavora

Ouço o som de uma carroça 

Perdida no tempo, que ainda roda


Ela para em frente, na calçada 

Sou refém desse momento, fim de uma era

Em que estive presente, fazendo número

 

Sou o infante prometido ao trono

Que acaba no exilio, jogado fora


Pelo susto de perder o que tenho agora 

Que não é nada, mas me basta

Tremo sem pensar, esporas de um cavalo

Galopo num pampa ainda aberto


Um anjo me avisa, e chora 


Nei Duclós

7 de dezembro de 2024

QUEDA LIVRE

 Nei Duclós 


Caia nos meus braços 

Ave, pássara

Exausta do teu voo

Corpo de abandono

Rosto em pânico 


Cavaste o abismo

Que hoje te consome

Mas eu estou aqui

Insone


Caia de bruços

que eu seguro

Estendido arame

Onde plumas pousam


Caia nos meus braços 

Tecido de amores

Pérola dos ares

Em busca de uma concha


Que eu fecharei a boca

Em tuas grutas de assombro


Nei Duclós