Blog de Nei Duclós. Jornalismo. Poesia. Literatura. Televisão. Cinema. Crítica. Livros. Cultura. Política. Esportes. História.
30 de julho de 2022
MIRANDA, UM POETA CLASSICO
27 de julho de 2022
OS ESPÍRITOS
Os espíritos não tem medo do escuro
Curtem quando descobrem que assombram
Procuram os lugares onde vivem
De memória como os velhos indígenas
Ao escapar do purgatório decidem
Ficar em rodizio no limbo
Aguardam vagas se um dia No paraíso lotado abrirem
Janelas de impunes virtudes
Chutam latas, puxam tranças e emitem
Sons guturais e rascantes
que os velhos cachorros
Inventam
para afastá-los do osso
Pois sentem fome as almas espúrias
Que não desistem de serem humanas
E se acaso te encontram, pastora
Na curva de rio tomam banho
E como eu, ai de mim, se apaixonam
Nei Duclós
25 de julho de 2022
PLANOS
Tenho planos (cidades vistas ao longe)
Mas me canso (prefiro ficar na estrada)
Siga adiante ( não tente ser veterano)
Chegará tua vez (todos tem essa chance)
Acaba sempre em poesia
O que jamais escrevi
Abandono minha pretensão de estadista
Talvez sobrevivas
Ao que estava escrito
Eu permaneço na minha
Vocação de vitória
Ao perder o que tinha
Meu gênio irascível
Sabe o que ignora
Nei Duclós
23 de julho de 2022
CATIVO
Convives comigo sem presença física
Isso te libera de inúmeros conflitos
Que meu corpo antigo provoca nas amigas
Longe, para ti sou um querido
Perto, ardo como urtiga
Quem me conhece sabe, mais não digo
Melhor manter a imagem sem retoques
O boa praça dedicado aa poesia
E não o bruto, escorpiano pobre
Mendigo do amor, calcanhar de vidro
Ando pela lua a tropeçar cativo
Na palavra perdida, a única companhia
Nei Duclós
18 de julho de 2022
INICIO DE VIAGEM
Ser muito pouco no turbilhão do mundo
Fagulha sem repercussão externa
Cultivo pobre em reduto e esquema
Vida impessoal que exaure o sonho
Quantos são assim, isolamento em massa
Sem sintonia da presença ou fala
Passar lotado no funil da época
Conformar-se, de rosto crispado
Isso decepciona o anjo da guarda
O que aposta tudo em seu protegido
Queria dar-lhe asas mas é proibido
Não que ele precise da transgressão das almas
Fica distraído sem lhe faltar o básico
Por isso há tanto anjo jogado às traças
Que precisa do apoio de quem o abandona
Por achar que é terminal o início de viagem
Fica difícil convencer a humanidade
que apesar do medo, o sofrimento e a morte
Temos uma porção da divindade
Viemos para ficar com a marca da passagem
Nei Duclós
PROFECIA
Escrevo para que eu possa ver
Como ave noturna que acorda para amanhecer
Mesmo que não haja luz
Ou testemunha para o seu cantar
Ela vive do sonho, tão certo quanto uma profecia
Dita em voz baixa numa praça vazia
Escrevo para não te perder
Nei Duclós
15 de julho de 2022
PRESENTE
Achei que tinha tempo
Mas me foi tirado
Ao recebe-lo
O presente está embrulhado
Em papel de seda
Dentro há um vazio
Com o recado :
Chegou a sua hora
O que é dado
Cobra a conta
Vou partir
Traído pela entrega do futuro
Que não veio
Fica tudo jogado fora
O rosto passado
Diante do espelho
Hoje, palavra de sempre
Nei Duclós
14 de julho de 2022
FUGI
Antes eu me importava
Agora não me importo mais
Deixo para você
O cultivo que evitei
Negócios que não fechei
Fugi
Não tente buscar-me aqui
Me escondi
Onde jamais estarei
Nei Duclós
AGUA DA FONTE
E agora que me viste por inteiro
Com todo meu acervo de conflitos
E perdeste a esperança de ser minha
Por eu me aproximar sem ter direito
E afastar um lance verdadeiro
Já que me vesti de oportunista
Saiba que apesar das evidencias
Sou eu que sofrerei primeiro
Por não ter poder sobre mim mesmo
E ter virado mendigo em teu caminho
Achando que o perdão da minha pena
Teria sido o amor, água da fonte
A lavar a alma em sua miséria
Nei Duclós
VISITA
Quando me visitaste
Em meu sóbrio e solitário apartamento
Deixaste cair, sem querer, a bolsa
Que foi ao chão com teu cartão e lenço
Nesse momento descobriste tudo
Que estavas ali por um só motivo
Querias ficar, doce e decidida
Porque nada pode contra o sentimento
Que agarra todo ser e leva ao piso
Nosso corpo comum num improviso
Na improvável comunhão do paraíso
Nei Duclós
13 de julho de 2022
FEITO AGORA
Meu poema não gera espanto
Primeiro porque não tenho cacife para tanto
Vivo da mão para a boca
Como um pedreiro do subúrbio
E não compareço na festa da cultura
Moro longe das experiências que fazem a cabeça dos contemporâneos
Estou sempre convalescendo
Na terceira idade lenta
Segundo porque ninguém se impressiona com mais nada
E prova generosas porções bizarras impactantes
Já estão servidos
Por isso fico na minha
Pesquiso a palavra perdida nos edifícios
Nos livros desprezados mas onivoros
Sempre há tesouros sob a pedra
Assim, componho a poesia sem truques
Como pão feito agora para o café preto
Nei Duclós
12 de julho de 2022
ANJO TORTO
Nei Duclós
Levo um tempo para chegar a um acordo
Com o poema que me desafia
Dá trabalho, como nas redações do bom jornalismo
Eh feito da mesma matéria
A palavra penteada ao extremo
Submetida ao olhar alheio, atento
Enquanto toca o telefone preto
Desta vez com imagens que se movimentam
Tecer desse jeito não expõe o esforço
Parece fácil, mas é carne de pescoço
Por isso os poetas andam meio torto
E colocam a culpa no anjo que lhes sopra o verso
Por serem gauche
Escondem o verdadeiro rosto
E mostram a cara varrida pelo espanto
Nei Duclós
A LEI
Nei Duclós
Não faz sentido o poema que repito
Em infindáveis manhãs do Apocalipse
Se é para cumprir as profecias
Basta obedecer o que está escrito
Mas não é esse do poeta o seu oficio
Calar-se, devoto de silêncios
Eh dizer sempre, mantra convicto
Como os profetas bíblicos em sua meta
Assombrar a praça e denunciar o reino
Com a voz que fica, gravada em pedra viva
Assim, de cidade em cidade (os teus ouvidos)
Vou mantendo a tradição dos muito antigos
Que traduzem o sagrado em eterno grito
Revisite tudo o que estah dito
Quando apareço a pé
Trazendo o trigo
Com as tábuas da lei, o amor cativo
Que é sempre o mesmo, como um recém nascido
Nei Duclós
9 de julho de 2022
CASAMENTO
Casamento de cuidados
Contingência e compromisso
Eh beijo para todo lado
Ninguém tem nada com isso
Moral de aliança no dedo
Catedral de abençoados
Casal de uma só palavra
Em paz com a diferença
Homem e mulher tão ligados
Que nem se sabe o motivo
Talvez seja a natureza
Ou o amor, laço de fita
Nei Duclós