30 de janeiro de 2015

TUITAÇO DE FIM DE JANEIRO



@neiduclos

Governo quer enxugar custos.Demita todos os aspones, extinga salários para cargos políticos, venda a frota de carros de luxo e corte viagens

No auge do calorão, venta o nordestão. É o siroco. Viramos o deserto.

Lanchonete atendia e depois cobrava. Hoje pagamos antes de comer. Os ladrõezinhos de lanches se esgueiravam pelos desvãos dos 88 bilhões.


Basta não abastecer as torneiras dos palácios. Aí vão se mexer.

Avalie a lei, o conselho, o rumo, a regra, o paradigma, pelos resultados. Consequências definem o que pode ou não ser relativizado.

Governar é mentir. Ser governado é sentir-se inútil sabendo a verdade.

O noticiário é o stand up do poder.

O combate à exclusão social teve resultados extraordinários no Brasil. 50 mil assassinatos por ano.

Entenda os motivos do déficit do Tesouro. Mas não saia divulgando por aí.

Pode mijar na rua no Carnaval. Está liberado. Agora, mijar no banheiro público nem pensar. Dá cadeia.

É difícil, no diálogo ao vivo, quando não te respondem mas dizem que responderam. Deus poupou-me o dom da telepatia, costumo dizer.

Não quero mais nada, vou jogar tudo fora. Os móveis, a memória. Vou morar na última gota d´água antes que evapore

Em vez de somar, sumir.

Pesquisadores mantiveram intenso hermetismo, diz El Pais. Já mantiveste intenso hermetismo? Cada dia aprendo uma.

São Paulo passará por rodízios drásticos. Cinco dias sem água e dois dias também sem água.

Não precisa regular a mídia. Ela já é regular.

Deus não tem povo. Não é candidato.

Em vez de incompatibilidade de gênios, temos compatibilidade de idiotas.

- Demoras a responder, diz o anjo. - Armazenando no buffer, diz o Senhor.

Para a população, austeridade é pagar o dobro pelo que não usufrui de serviços básicos.

Austeridade é cortar jantares de luxo de seis para quatro por semana.

Austeridade é quando o caviar é devolvido porque não tem boa procedência comprovada.
Marlon Brando despreza a cena e sugere pertencer a outra situação onde só ele existe. Suas falas são concessões ao entorno. Insuportável.

Um amigo avisa: A vida é um romance. Alguém está escrevendo. Comporte-se.

Atirou pelas costas "em legítima defesa". Só se a vítima deu marcha a ré para cima do algoz.

O imperativo domina as mensagens do marketing. Corra, faça, aproveite. Quem dá essas ordens? Publicitários metidinhos. Ora...

Não há mais subconsciente. Apenas inconsciência.

Tony Ramos impecável na sua interpretação de múmia paralítica fazendo gestos com os dedos em sinal de contundência. Pobre Getulio Vargas

Quando o interlocutor é o protagonista de todas as descobertas, deixando tuas falas no chinelo. Dizendo coisas mais importantes do que dizes

A culpa da seca é da inflação, dirá o estadista brasileiro no ano 7018

Ainda resta uma esperança, dirão os eleitores brasileiros carregando o cartaz do seu candidato, aí pelo ano 6.020.

Não vamos admitir mais isso, dirão, indignados, os brasileiros no ano 4.500

No ano três mil os brasileiros ainda estarão dizendo basta, chega, até quando?

Bons tempos em que os atores não ficavam 90 por cento do filme grudados no celular.

Entendeu agora ou quer que eu design? perguntou o arquiteto.

Esporte radical é o desprezo pela paisagem.

Os criminosos foram soltos. Já as pessoas honestas foram todas capturadas.

Conosco todo mundo podosco.

Não lute pelos seus sonhos. Eles acabam ficando amassados.

A fábrica de chatos não entra em recessão.

Licitar é legitimar o ilícito.

Educação vira sucata para desarticular a população. A ruína escolar atrai os falsos salvadores, que reivindicam verbas para serem desviadas.

Nei Duclós

RETORNO - Imagem desta edição: obra de Vladirmir Klush

29 de janeiro de 2015

O MISTÉRIO DE AFRODITE



Nei Duclós

Mexi em tua caixa de luas
escolhi as mais ardentes
para usares de pingentes
quando vieres transparente
iluminar minha rua

Teu desejo é a minha trova
a prova que pões na luva
despida em gala de núpcias
quando a valsa mais antiga
te rodopia entre as nuvens

Invento que sou cativo
das dobras da tua doçura
para ficar preso à cama
onde à noite te lambuzas
das fantasias mais íntimas

Gostas do fogo recluso
onde quebramos as regras
eu no porão, tu na areia
gaivota que busca a vida
nos mares onde desmaio

Ora, dirão, isso passa
é capricho de palavras
Não sabem que te recito
para que tenhas completa
meu sistema de armadilhas

O mistério de Afrodite
é ser mulher sendo eterna
desestrutura os abismos
principalmente se digo
que ela é minha e eu sou fera





OLHAR CRESCENTE




Nei Duclós

Estava quase cego
quando vi a Lua
era Crescente, metade do seu olho
estava escuro

Descobri que tenho fases
de clarividência
tímido na Nova e na Cheia
expludo

Deve ser por isso que entendo
teus múltiplos usos
quando me escondes
minguante em nuvens

ou tempo em que passeias
tuas noites de veludo
vestida de estrelas
que cobrem teus cabelos



RETORNO – Imagem desta edição: tirei daqui http://bruhfloripa.blogspot.com.br/2012/03/o-que-se-deve-fazer-na-lua-crescente.html

28 de janeiro de 2015

NADA É MEU



Nei Duclós

Nada é meu, nenhum canto
desta terra firme
por isso sou do mar, do rio
lar que me negaram

Possuo o ar quando respiro
os raios do sol no navio
de onde se avista
o sal de uma sereia

O que me pertence é o mel
que compartilhas
na hora apropriada, quando
pássaros saem do teu seio

Nada é teu, exceto o tempo
que dedico à flor
Vida é o canteiro que cultivo
pétalas de esplendor



RETORNO - Imagem desta edição: Rio Uruguai, foto de Marga Cendón.

26 de janeiro de 2015

CAPA E ESPADA

Nei Duclós

Não fazia parte da turma
tinha asma
ficava de cama enquanto
jogavam o campeonato

Me colocavam de goleiro
que era quase um gandula
alguém da arquibancada
uma testemunha

No baile estavam ocupadas
as principais chances
terno marrom amassado
chupando soda laranja

Na profissão busquei a calandra
aquela máquina enorme
alvo de gargalhadas
batucando com cara de tacho

Na literatura entrei pela janela
as portas estavam fechadas
Errol Flyn, ai de mim
poeta de capa e falsa espada

A única aventura é a interminável
história que me contei em silêncio
quando assumi o papel principal
Vida escrita no meio das balas

Hoje me contento com a lua
quando aparece descalça
sobre as poças da chuva
que molham minha calçada

23 de janeiro de 2015

TREINAMENTO



Nei Duclós

Nenhum amor me apetece
nenhuma flor que floresça
animal sombrio da floresta
rasgo o coração das árvores

Nenhum pássaro me comove
nenhuma luz me contempla
o dia esconde meus rastros
corto a direção dos ventos

Corrijo a solidão, sou gigante
preencho os vazios do ermo
alguém me fez, um deus louco
em desavença com o tempo

Não me atraia com teu canto
não diga que há conserto
desequilibro os acordos
rosno para escutar o eco

Se por acaso apareço
diante dos olhos da fada
melhor que fuja correndo
minha linguagem é o medo

Nenhuma cor do horizonte
amanhece em meu destino
nasci quando me escolheste
morri quando foste neve

És o inverno, princesa
hiberno em minha conversa
treino para o momento
por te querer me preservo