17 de agosto de 2004

HISTÓRIA DO BRASIL URGENTE

Por que e como Getúlio Vargas assumiu o poder em 1930? Por que enfrentou a guerra contra integralistas, comunistas e militares revolucionários nos anos 30? Por que instaurou o Estado Novo em 1937?Por que foi derrubado em 1945? Como conseguiu voltar ao poder em 1950? Por que se suicidou? O que diz a Carta Testamento? Quem era Luiz Carlos Prestes? O que é o tenentismo? Quem era Olga e o que veio fazer no Brasil? Por que acusam Getulio de fascista? Qual a herança do grande presidente? Quem vem lá? perguntavam na revolução de 30. Oswaldo Aranha, era a senha. Quem foi Oswaldo Aranha? A quem Getúlio Vargas continua contrariando?

TODAS AS RESPOSTAS - Vou responder cada uma das perguntas, mas não tudo hoje. Sou convocado para isso pela minha amiga Larissa, do Rio de Janeiro, que me pergunta de onde tirei as informações . Agora, a repercussão do meu artigo sobre Olga serve também para eu entender o quanto devo em explicações sobre o que defendo aqui. Vamos começar pela guerra. A revolução de 30 não foi um acerto entre elites, como ensinam os professores mal formados em todas as escolas do Brasil. Foi um gigantesco movimento popular armado, liderado na área militar por dissidentes do Exército, líderes guerreiros civis e forças estaduais dissidentes; e na área civil pelos governadores de três estados. A revolução resultou na derrubada de uma ditadura, a da República Velha, instaurada logo depois do governo de Floriano Peixoto, no final do século 19, por oligarquias políticas e financeiras. Essa ditadura jogava com eleições de cartas marcadas (havia sempre um conselho de notáveis que mudavam o resultado das eleições, por si só fraudulentas, a bico de pena) e porrete grosso contra as manifestações populares e as revoltas armadas. Um dos presidentes da ditadura, Arthur Bernardes, governou quatro anos em estado de sítio e mandou bombardear por duas semanas alvos civis da cidade de São Paulo. Getúlio foi apoiado, só no Rio Grande do Sul, por cem mil voluntários civis, que se alistaram para entrar na luta. Foi aclamado pela multidão por onde passou, especialmente no Paraná e chegou ao Rio de Janeiro ovacionado pela população da então capital da República. A Revolução de 30 mudou o país. Implantou o parque industrial brasileiro, as leis trabalhistas, o voto das mulheres. Antes de 30, crianças, homens e mulheres, sujos da cabeça aos pés, trabalhavam 14 horas por dia, sem direito a nada, até morrer. Getúlio governou então como presidente do governo provisório até 1933, quando houve as eleições diretas para a Constituinte, que o elegeu presidente constitucional.

EXÉRCITO DIVIDIDO - Para entender a revolução de três de outubro de 1930 (agora as novas gerações sabem porque votarão no próximo dia três de outubro, que em tempos passados era feriado nacional) é preciso focar o exército dividido. Haviam três tipos de militares. Os jovens oficiais revolucionários, que pegaram em armas na década de 20 para derrubar a ditadura civil. São inúmeros, mas vamos citar Luiz Carlos Prestes, Siqueira Campos, João Alberto, Juarez Távora. O estopim para a rebelião foi o sentimento de desonra que experimentaram quando se sentiram ofendidos pelo ditador civil, Arthur Bernardes, mas os brios estavam exaltados desde a época da presidência de Hermes da Fonseca. O segundo grupo eram jovens oficiais reformadores, adeptos da guerra do movimento e da modernização do Exército. Seus ídolos eram os alemães. Dele faziam parte Bertoldo Klinger e Pedro Aurélio de Góes Monteiro, entre muitos outros. E o terceiro grupo eram os oficiais legalistas, que foram derrotados em 30, mas continuaeram ativos depois do movimento. Com a recusa de Prestes de assumir o comando da revolução de 30, Góis Monteiro, que era tenente-coronel, aceitou o convite e tornou-se um dos principais personagens das Forças Armadas brasileiras do século vinte, pois conseguiu unir o exército dividido, união que continua até hoje. Os reformadores ganharam a parada e os revolucionários, com Prestes à frente, perderam.

SIQUEIRA CAMPOS - Getúlio ofereceu o comando militar da revolução para Prestes, o mais prestigiado líder do exército rebelde. Mas Prestes tinha se entupido de cultura marxista doada pelo Partido Comunista Brasileiro, que tinha poucos anos de vida. Achou que deveria fazer a revolução popular e não aquela revolução, que considerava elitista. João Alberto e Siqueira Campos, seus companheiros de Coluna, foram a Buenos Aires, onde estava exilado, tentar convencê-lo. Mas este disse que não faria aquela revolução, causando tremendo sururu no quarto onde estava hospedado. João Alberto e Siqueira Campos saíram alterados da reunião. Pegaram um pequeno hidroavião com um piloto e começaram o sobrevôo do Mar Del Plata, rumo a Montevidéu. O avião caiu. O piloto morreu, junto com Siqueira Campos, o herói dos 18 do Forte (1922). Sua morte causou grande comoção nacional. Desde 1924 estava foragido e era idolatrado pela população. São Paulo inteira foi sepultá-lo. Foi nesse momento que o parque Trianon, na Avenida paulista, ganhou o nome do grande revolucionário. Amanhã continuo. Façam perguntas, senão não consigo focar direito, diante de tantos eventos. Quando passarem pelo parque Siqueira Campos, lembrem de quem arriscou a vida por uma nova nação. Em 1922, era quase um menino, um jovem oficial quando pegou em armas, repartiu a bandeira nacional com seus camaradas e saiu atirando, de peito aberto, contra as forças da ditadura nas areias de Copacabana. Quem poderá com essa raça de leões? perguntou o veterano escritor Coelho Neto no dia seguinte à batalha, que deixou apenas quatro sobreviventes entre os revoltosos, Siqueira entre eles (na hora em que personalidades da ditadura foram visitar os feridos, um dos combatentes arrancou os pontos da barriga para mostrar as vísceras e provar que a luta era até o fim). Quando morreu afogado, estava por volta de 30 anos. Honra e glória aos heróis da Pátria.

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