27 de dezembro de 2025

DIVERSA

Nei Duclós Não sabe unir compromisso com aventura Leva a ponta de faca o dom da fantasia Perde assim o prazer de ser diversa E se arrepende quando cede um dedo de doçura Arrisca a chance e o benefício Apesar do fogo que lhe consome bruta Já desisti mil vezes de aceitar tuas caricias Mas sempre voltas cada vez mais nua Nei Duclós

SEGREDO

Nei Duclós Você amanhece devagarínha como um sol de doçura Procura na cama e não encontra o voo da aventura Porque estou distante de amores com a lua Não sinta remorso, mulher madura O prazer é o verão no abandono das criaturas Perdura o calor, nossa chance de sermos o melhor entre tantos erros O segredo que o sonho guarda na clausura Nei Duclós

17 de dezembro de 2025

PRÓXIMO

Nei Duclós Trato muito mal o próximo Desconfio das intenções Das suas ações Não gosto que chegue perto Temo que me converse Que me faça algum mal Mas quando enfim se revela Amigo oculto sem briga Generoso em cada gesto Descubro então abismado Que errei, troquei de lado O sujeito meio torto Era eu e não o Outro Nei Duclós

EXTRA TERRA

Nei Duclós Esta terra desconheço Por contrariar o modelo Do umbigo seco em canteiro Não há nuvens ou até gente As plantas desobedecem Horizontes que não fecham Paisagens de pesadelo Desconfio que até mesmo Animais aqui não medram E o Sol a contragosto Evita fechando os olhos Não por amar meu berço Mas há um quê de bizarro Quando saímos de casa E no ermo nos perdemos Esta terra extraterrestre É estranha e me mete medo Nei Duclós

6 de dezembro de 2025

DESCOMPASSO

Nei Duclós Você está fora quando é moço Depois passa do ponto ao durar muito No meio do caminho aguardas o momento Mas ele não chega, a não ser para os outros Se os outros partem você é o sobrevivente És convocado como testemunha coadjuvante Não és o alvo mas a plateia errante Teus dedos apontam para o horizonte Onde brilha o sol da vida alheia Assim te esquecem quando te lembram Passas lotado pelo Tempo Não nasceste Fulano, teu contemporâneo Nei Duclós

NOIVADO NO BAILE

Nei Duclós Pergunto por que a dança te conquista Fazes questão de rodar pela pista Com ritmo de passos repetidos Será fantasia de uma relação perfeita O encaixe fino entre corpos afins Ou será o devaneio que isso provoca De um amor nas nuvens, beijo na piscina? Não, dizes com um meio sorriso É só a oportunidade de não ser esquecida Num baile onde o olhar das amigas Me acham incapaz de uma valsa convicta Se danço, me dizes Posso depois contar que lá estive No salão da paróquia em tempos felizes Quando enfim desististe da solidão bruta E me pediste, joelho no chão batido Com um anel de noivado que a tua família Te deu para que não fosse perdida A mulher da tua vida, cavaleiro triste Nei Duclós