29 de março de 2025

DESCOBERTA

 Nei Duclós 


Cada dia descubro novos tesouros em ti

Vivências ocultas que vem à tona

Momentos que inventas quando menos se espera 

Canções que não lembras e assim mesmo cantas

Sonhos bizarros que já não mais te atormentam 


Cada dia é uma nova festa do sentimento

Admiro à distância pois sou suspeito

Poderão desconfiar que eu te amo


Nei Duclós

23 de março de 2025

,SUDOESTE

 Nei Duclós 


O sol nasce à esquerda do meu quarto

E deita à direita da varanda


Dos ventos prefiro o sudoeste

Mistura de brisa de outono com lascas de verão 

Sopra intermitente depois do almoço

(pastel de carne com vitamina de mamão)


Faço a digestão na tarde morna acariciada pelo meu vento favorito

Max na grama aguarda a visita da dona, a neta

Que ao chegar proíbe que eu ralhe com seu protegido


Ele se aproveita e percorre a casa fuçando tudo

Como se não houvesse mais amanhã 


Vou para o quarto e ligo o ventilador virado para a parede

É meu sudoeste doméstico que acompanha minha navegação 


A vida é um cão de guarda

Que aguarda a visita de quem traz amor


Nei Duclós

22 de março de 2025

PAZ

 Nei Duclós 


Pássaros fazem algazarra às cinco da manhã 

Quando ainda está escuro

E a tímida claridade continua no ovo

Custando a despertar


Sem sono, faço café para o corpo se acostumar

Ao fim da noite

E ao lento passo pesado de um sol que não se anuncia

Mas sabemos que ele não depende de profecia

Para inundar sua amante, a Terra

Onde experimentamos viver uma eternidade

Enquanto cavam as trevas com o terror de suas pás 


Teremos paz

Alguns segundos antes de amanhecer


Nei Duclós

19 de março de 2025

LUZ VIVA

 Nei Duclós 


Não vi a lua de sangue

Nem a chuva de meteoros

Não vi a aurora boreal

Nem Ovnis em Nova York

Desconheço os annunaki, e os sumérios 

Acho as pirâmides um saco e sua ausência de sarcófagos

Por mim todos os arqueólogos

Que querem reescrever a História 

Deveriam fazer cinema

Junto com Harrisson Ford


Não acredito que estrelas

Sejam apenas luz morta

A ciência é cega e o poema

É tudo o que nos resta


Nei Duclós

17 de março de 2025

MALABARISMOS

 Nei Duclós 


Jogo de palavras

Não garante o poema

Aproximar as sílabas de significados opostos

Equilibrar sintonias como os pratos no circo

Ou malabarismos de trapezista


Tudo isso já foi tentado

Pelos mestres do ofício 

Que desistiram e voltaram para o verbo cru da poesia 


A modernidade é  um equívoco

Sempre voltamos ao verbo básico

Canteiro de madressilvas


Pode haver

Mas arte dispensa estrepolias


Nei Duclós

11 de março de 2025

RUMO

Nei Duclós 


Mal começou e já acabou o dia

Não há surpresa na aposentadoria

O mesmo rumo de manhã à noite 

A espera de algo há muito prometido


Não é a mocidade, que não tem rodízio

Nem a sorte grande, na mão dos bandidos

Talvez um temporal que varra o clima

Ou uma reviravolta na política


Saudade do tempo em que fui para a rua

Somando vocação com chuva de granizo

Quem sabe possa voar como um peregrino

De mochila e um farnel para certa ocasião


Acampar no futuro enquanto há saúde

Ter um coração e teu gesto de doçura


Nei Duclós

9 de março de 2025

ENROSCO

 Nei Duclós 


Molhou os olhos e não era choro

Era além do gozo, água de fogo

Que um soluço extraía do fôlego 

Que era curto circuito, bruto joio

Paz com remorso sem recursos

Pedindo mais cheia de vergonha


Era lágrima fora de sua fonte

Gosto de amor e nenhum decoro

Eu sabia que eras louca

Mas fiquei surpreso diante do sopro

E o que era soco virou enrosco

Lago de sonho, teu rosto de uma dor sem nome

Escândalo, esporro

Navio invadindo o porto


Nei Duclós

5 de março de 2025

ACHO POUCO

 Nei Duclós 


Acho pouco a devassa que faço 

Com a palavra que rasga, a impiedade 

Tida como literatura 

E é só vizinhança do romper da aurora


Acho pouco e jogo fora

Tudo o que sei e ignoro

Fico preso à dor de ser teu protetor e algoz

Ao meu grude sedento de flor

Que por culpa sua e arte maior 

Esse amor evapora e se refaz em nuvem de verão 

Chuva que não vem mas te molha


Nei Duclós