25 de fevereiro de 2017

CULTIVO NO ESCURO



Nei Duclós

O clima do pais mudou
já não cabe a poesia
A palavra se recolhe
no silêncio da oficina
Talvez seja sua sina
cultivar em tempo escuro
a luz que fica muda
no olhar que já não brilha


17 de fevereiro de 2017

NOSSA ARTE

Nei Duclós


Nossa arte não faz parte
do cânone contemporâneo
É artigo fácil misturado
aos gerânios de plástico
vendidos em lojas
de inconveniência

Somos autores ocultos
em improváveis nomes
Anjos nos escutam
com o coração na boca


CRIAÇÃO




Nei Duclós


Criação não se oferece, solitária
exige quórum, imaginar o que logo
se desenha. Delta rumo ao estuário
revisão sob suor, multiplicada

É poder de zíper, que costura
elementos díspares num desfecho
salto no escuro, mas com azeite
que liga o candeeiro em plena bruma

Criação é fôlego antes do mistério
respiração na gruta submersa
verso ou estátua, prédio ou fazenda
régua a medir fora do método

Lápis ou cinze, a ferramenta
não define o perfil bruto da memória
o que vale é o olhar oculto no trabalho
o fogo que escapa de uma forja

Fica devendo, mesmo que inaugure
a obra enfim desmesurada, essa amargura
de não ter feito o que a mente recupera
como um Deus na sombra, a cultivar o sono

3 de fevereiro de 2017

TODA ARTE É ABISMO




Nei Duclós

Toda arte é abismo
falta o chão no mistério
Ficamos fixos na borda
círculo de um redemoinho

Pedimos socorro
o tempo com suas esporas
É bruto o caminho
quando só temos o barro

A alma virá depois
na luz de alguma estrela
hoje estamos na mão
do deus que nos imagina