Nei Duclós
Depois de
rodar por Blumenau, Florianópolis, Vitória do Espírito Santo e São Paulo,
voltei a Porto Alegre em 1974, onde fui recebido de braços abertos pelo Carlos
Urbim, então chefe de uma central de copys na Folha da Manhã, da Cia. Caldas
Junior. Aquela Folha (para diferenciar de “esta Folha”, a de SP) tinha LF
Veríssimo, Ruy Carlos Ostermann, Caco Barcelos, Licínio Azevedo, José Onofre,
Ademar Vargas de Freitas, Dorival Pacheco, Giba Rocha, Osmar Trindade, José
Antonio Silva, entre outros. Quer dizer, era hard.
Nosso
trabalho era pegar a matéria dos repórteres e dar uma penteada rápida, pois a
indústria tem deadline e com prazo não se brinca, ainda mais em jornal diário.
Mas como éramos criativos e carentes, vivíamos aprontando coisas para desespero
das chefias. Queríamos algo mais do que simplesmente baixar a matéria. Urbim
fazia de tudo para nos chamar às falas, com seu jeito gentil, civilizado e
generoso. Tinha responsabilidades, mas também participava do capricho do ofício
em meio ao tiroteio. Nós, os copys, éramos meio brutais no trato e sempre dava
algum ruído com os editores ou os próprios repórteres.
O clima
geral era foda, numa época de distensão geiseliana em que o MDB deu lavada de
votos na ditadura, com o senador Brossard à frente, levantando seu chapéu de
feltro como um político da República Velha, foto estampada no Correio do Povo,
jornal líder da empresa onde eu trabalhava pela segunda vez (a outra foi em
1971, na Folha da Tarde capitaneada pelo Walter Galvani e que tinha Valdir
Zwestch, Luis Henrique Fruet, Juarez Fonseca, Danilo Ucha, Jorge Escosteguy, ou
seja, uma redação hiper hard também).
A Folha da
Manhã encerrou sua fase insurgente num rolo geral desencadeado por reportagem
do Caco Barcelos sobre o novo prefeito de Porto Alegre, não eleito, mas
indicado pelo governo federal, como acontecia naqueles tempos. A rusga
ideológica saltou faísca de todos os lados e o chefe de redação, Ruy Carlos
Ostermann acabou saindo. Fui então demitido pela segunda talvez, possivelmente
por ser boquirroto e ter colocado desaforadas mensagens no mural, coisa que eu
fazia bem campante como se não houvesse mais amanhã.
Esse
voluntarismo, essa competência jornalística, esse fogo contra fogo, essas
personalidades que deixaram sua marca no jornalismo brasileiro, acabam sendo
personagens de uma aventura literária, que alguns decidem colocar no papel.
Carlos Urbim, jornalista e escrior, preferiu mais as histórias infantis, talvez
pelo resgate que costumava fazer dos sentimentos básicos, como a solidariedade
e a emoção de compartilhar a vida com muita gente. O que só na infância
encontra o ambiente ideal.
Urbim se foi
para sempre hoje, protgonista de uma vida plena, complicada, cheia de altos e
baixos, que nos deram para viver nesta quadra da existência dividida entre um
século que morreu e outro que nos impactou pela seu nascimento confuso,
explosivo, contraditório. No ano seguinte, em 1975, graças a essa hospitalidade
de Urbim naquela redação cheia de vida, pude então sobreviver para poder lançar
meu livro de estreia Outubro.
Há 40 anos,
Carlos Urbim. O tempo passa por cima de nós. A emoção permanece. Agradecemos o
convívio, tão raro e tão rápido.
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