18 de setembro de 2023

FOT0S ANTIGAS

 Nei Duclós 


Ninguém sorri nas fotos antigas 

As imagens reais, que ninguém manipula

Não havia motivos

Vida dura demais

Sem nada para distrair 


Por isso parece que estão nos advertindo

Que aqui não é um passeio

E coisas graves estão por acontecer


São pessoas cobertas de fuligem 

Nas indústrias nascentes

Ou de terra nos campos de colheita

São famílias de população imensa

Homens taciturnos, mulheres imóveis, crianças tristes


Ou talvez sejam posturas e rostos de assombro

Diante da Fotografia

Arte misteriosa

Que os deixariam congelados

Em suas biografias 


Falo de fotos realmente antigas

Fotos sem moldura, como casas destruidas pela guerra


Nei Duclós

17 de setembro de 2023

LAVOURA

 Nei Duclós 


Acordamos cedo na roça do poema

Sitiantes da palavra à margem do latifúndio 

Lavradores de grãos de ancestral linhagem

Colhedores dos frutos de pequena monta

Morangos e amoras de ductil manejo


Suamos antes do sol e sua faina

Sob o testemunho de friorentas estrelas

O horizonte muge de excessivas tetas

O resto do mundo dorme desprezando

esporos

Enquanto continuamos no chão bruto deste ofício


Os anjos entendem 

E providenciam nosso lanche


Nei Duclós

CONFESSO

 Nei Duclós 


Eu não tenho conteúdo 

Sou apenas continente

Não tenho nada por dentro

Nem por fora, só em frente

Meus contornos são o mar

E rios de água corrente


Não me venham com política 

Esse comércio de gente

Nem com a fé que já não tenho

Essas almas sem sossego

Não me enquadrem em suas leis 

E seus planos de carreira 

Nem digam que sou autêntico 

De conflito permanente

Nem que sou flor que se cheire

Fiel homem confidente 


Em tudo sou desconfiança 

Não permito que me atentem

Com projetos ou dinheiro 

Consultor de empreendimento

Sou um tigre em mato adentro

Rosno na sala, imprudente

Invado o quintal e de quebra

Mordo o joelho dos gigantes


Nei Duclós

DESCOBERTA

 Nei Duclós 


O Brasil não existia

Era uma praia distante

Antes de ser consagrada

À Cruz diante da indiada

Vieram leis dos capitães

E navios presos na barra

O comércio junto às armas

Os padres e a mulherada

Com os bandidos de arrasto

Antes mesmo das Histórias

E as mentiras datadas

Antes do samba e a piada

E dos batuques escravos

Palácios de pau a pique

Plantações de cana brava 


O mundo recém criado

Por deuses presos nas fraldas

Não era o Brasil por certo

Que Caminha registrava

Ou Cabral com sua pressa

De sair da terra errada

Nem sequer havia a ideia 

De bandeiras desfraldadas

Em lutas da

Independência 

País com seus dois Reinados

O ideal republicano

Parlamento versus farda


Era uma ilha perdida

Pela cegueira dos mapas

Gritos de terra à vista

Monte acima das águas

Que permaneceu oculta

Pelo destino traçado 


Hoje ninguém mais enxerga

Seu real significado

Será uma nação bizarra?

Indío vestindo casaca?

Ou será só o meu sonho

Acordando de repente

Com o barulho de balas?


Nei Duclós

15 de setembro de 2023

CIRCO

 Nei Duclós 


Nenhum namoro te tira do conforto

Não abres mão das rotinas do corpo

Academias encontros eventos

Almoço executivo faustos jantares

Happy hour no belo apartamento


Seria muito desplante meu te convidar para um drink

Em barzinho da moda e depois uns amassos

É pequena a visão do meu horizonte 

Mas basta me chamar e eu saio correndo

Interrompo a reunião, bato a mão na mesa


Depois me dizem que eu dei espetáculo

Fomentado por ela, palhaça de circo

Sou o playground de sua indiferença 


Não fosse o amor que sinto de misteriosa fonte

Eu já teria parado de pensar em ti

Por cinco minutos


Nei Duclós

13 de setembro de 2023

ESGRIMA

 Nei Duclós 


Você esqueceu que estávamos quites

Cada um para um lado foi o que me disse

Mas deste uma volta rasgando o escrito 

Ao contrário de mim o amor não desiste


E agora o que faço com esse abuso explícito 

Já não tenho o que tive no tempo contigo

Desprovido de sonho só restou o castigo

Que é esquecer de viver e ainda ser vivo


Desperta o desejo esse lance de esgrima 

Em que finjo fugir do meu compromisso

De acatar o destino que é a dor do carinho

A dança que o mundo impede e permite


Para a flor que jogamos longe na onda

Guardo a lembrança de um doce convívio 

Mas tem a cicatriz impondo seu ritmo

Enquanto tentamos resgatar o perdido


Nei Duclós

VESTÍGIOS

 Nei Duclós 


Descubro versos ocultos

Na barra do teu vestido

Vestígios de inúmeros poemas 

Que te dedico da noite até o dia


Se fizessem parte do que eu finalizo

Mudariam o rumo da minha poesia


Não que sejam  lampejos de epifania

Mas por pertencerem a espécies extintas 

E ganham um ar de algo nunca dito

Só encontrado em oração ou profecia

Em rolos de papiro nos jarros das grutas 


São os versos que não  chegam ao teu ouvido

Por descuido ou talvez excesso de amor distraído 


Nei Duclós

12 de setembro de 2023

SEM FACÇÃO

 Nei Duclós 


Do Mal quero distância e do Bem sou complicado 

Não sou de nenhum lado e do Centro sem amigos

Não procuro uma bandeira, o ideal foi para o espaço 

Lutar por liberdade igualmente eu não faço

Nem assino manifesto para justificar o voto 


Não procuro o que não acho

Não sou omisso nem falso 


Sou o que não é 

Vivo sem paixão 

Não conte comigo

Faça inverno ou verão


Nei Duclós

TENTAÇÃO

 Nei Duclós 


Fico muito estranho quando me aproximo

É um arrancar de peças de seda e de linho 

O algodão manchado na altura do vinho

A respiração molhada enquanto capricho 

Tentação colhida em situação limite 


Não importa quem somos no amasso dos gritos

Se um dia perdemos o que nos complica

Esse vínculo, raiz por termos nascido


O que vale é teu corpo vibrando comigo

No encontro fortuito em lugar do castigo

De sermos distantes, amantes em círculo 


O passo tremido ao tropeçar no abismo

E cair para sempre no fundo infinito


Nei Duclós

8 de setembro de 2023

SOCORRO

 Nei Duclós 


Não há lugar seguro sobre a Terra

Há apenas dilúvio, incêndio, cataclisma

O rio inunda a rua

Um dragão invade a sala

A montanha despenca no abismo


Telhados não servem de refúgio 

Todos os navios se desviam

De nenhum porto te acenam

Corpos descem o morro


Um monstro despertou o vento

O tempo te jogou fora

Não tente fugir para Marte

Não peça mais socorro 

Você agora faz parte

da equipe de salvamento 


Não se preocupe, me disseram

Espere Deus voltar de viagem 


Nei Duclós

6 de setembro de 2023

 CONFLITOS 


Discordo, mas ninguém precisa saber

Poupo a amizade do amargo dizer 

Tudo é superado pelo bem querer


O mar é suficiente com sua carga de conflitos

Ondas gigantescas

Seres de outros ritmos

Discos voadores que pousam no luar

Por que forçar a barra em brigas de bar?


Conte aquela história da ilha deserta

Bravos em naufrágio, sereias que te levam

Acordas de ressaca mas cheio de garra

Lá vem os camaradas gritando à vista, terra!


Nei Duclós

4 de setembro de 2023

TÚNICA

 Nei Duclós 


Os pássaros piam pontos luminosos na  costura da manhã 

Túnica úmida que veste o final  da estação 


Desperta, primavera

meu antigo coração 

Irmão do sol, gigante, que bebe a última gota de orvalho

que a noite produziu na escuridão 


Nei Duclós

1 de setembro de 2023

DESPERDÍCIO

 Nei Duclós 


Saiste das redes sociais e eu nem tinha notado

Não foi por falta de sinais mas por força do hábito

Que me trava quando costumam me avisar


Vi o caminhão de mudança, tuas queixas 

Mas não liguei o recado aos fatos


Não é indiferença 

Simplesmente estou lotado

Me ocupo demais em ser tão solitário

Não vejo solução e o trem passa

Te levando para longe, flor que o amor não colhe


Nei Duclós

28 de agosto de 2023

ESQUECER

 Nei Duclós 


Esquecer é meu jeito de perdoar

Há apenas um culpado neste bar

Eu mesmo, imagem no espelho virtual

Muro do tempo irreal


Cicatrizes apontam o lugar  dos deslizes 

Decido fazer um pedido 

Ainda estou vivo, penso sem motivo

Aqui não vendem suco natural


É hora de fechar, lembro-me agora

Lá fora a ameaça de um ciclone

Um talismã, ainda coberto de pó 

Amor submerso que fica desperto dói 


Esquecer é meu jeito de sofrer


Nei Duclós

27 de agosto de 2023

A REVELAÇÃO

 Nei Duclós 


Eram muitos deuses porque o trabalho árduo

de vestir a terra de canais e monumentos

Mais os altares e as montanhas imitando templos

Com suas torres e terraços amplos

Precisava de mãos e da vontade dos gigantes


Eles então criaram a obra

Que hoje é só vestígio de ancestral espanto

Deixaram as pedras com formas ignotas

E rostos enormes de olho no horizonte


Tudo o que hoje pisamos é sagrado

Deuses provisórios se esforçaram

Para merecer a grandeza da primeira santa

E anunciar pela voz do arcanjo

a vinda de um Deus, síntese e convênio

Nascido de uma estrela de oriental comboio


A revelação é nossa epifania

Herdamos o eco de um Amor sem fundo

Não dá pé esse mar de corais extremos


Diante da criação somos todos mudos

a oração contrita expressa num mergulho

Deus está vendo e vive no comando

Aguarda o tom humano que resta neste mundo


Nei Duclós

VONTADE

 Nei Duclós 


Me acostumei a ficar do meu lado

Jamais avançar, mesmo com espaço 

Permanecer no que foi combinado

Nossa ruptura não desfez esse trato


No meio da noite acordo com vontade

O hábito me leva para estender o braço 

Mas o corpo se lembra e torna-se imóvel 


Talvez ainda estejamos grudados

Nenhuma distância nos mantém separados

O amor costura o que a razão esgarça

O sonho reforça o que a vida espedaça


Rolo no sentido contrário 

Em vez de você é no chão que eu caio 

Custo a levantar. Espero

Mas não te moves e finjo que não quero


Nei Duclós

24 de agosto de 2023

LEMBRANÇAS

 Nei Duclós 


Por que o universo não desanda 

E perca esse perfil de rede perfeita

Com leis de gravidade e galáxias gigantes

A exibir supernovas e cometas de gelo 


Por que mantém limpo  o céu de veraneio

Com estrelas cadentes e luas de espanto

E não choca todos os astros e destrói para sempre

Esse rodízio absurdo de viagens e sonho?


Só assim poderei ficar longe

Desse amor que consome toda vez que anoitece

E me deixa sozinho como  cachorro louco

Que fareja na rua os cacos de estrelas

Que são teus carinhos mulher sem abrigo

A raspar o vestido nas minhas lembranças 


Nei Duclós

23 de agosto de 2023

DESTINO

 Nei Duclós 


Você diz eu obedeço 

Mando um pouco no começo

Mas abro mão do desfecho

Tua palavra final, como sempre


Reconheço, sou soldado

Sentei praça na fronteira

Num quartel a céu aberto

Pampa e rios da natureza


Aprendi que o compromisso 

É a liberdade sem pressa

Aos poucos vemos vantagens 

Na vida além da aparência 


Descubro os mandamentos

Nos conflitos mais extremos

Defesa é a lei suprema

Do equilíbrio permanente


Se for preciso, me lanço 

No comando e na surpresa

O destino tão cioso

Da preciosa liderança 

Que tenha a santa paciência

Há tropas que não se dobram 


Nei Duclós

20 de agosto de 2023

TEMPLO

 Nei Duclós 


Deus é bondade

Cada pessoa da Trindade

A Proteção, a Comunhão, a Palavra.


O coração é a voz que o peito cala

Aprendo a ser bom, enluarado

A oração prepara o corpo

Exercício da alma 


Riem de nós, que o Tempo prepara


Somos o Templo de uma canção na marra


Nei Duclós

SURRA

 Nei Duclós 


Levei uma surra de realidade 

Não por desconhecê-la 

Mas por não saber mais me defender 


Desmoronou minha cidadela

Junto com as forças para reconstrui-la

Pisotearam meu jardim

E descubro o quanto fui pequeno


Cair fora não se cogita

Porque é tarde e perdi meus exércitos

Resistir é reconhecer o erro

E voltar a ser o anônimo coração que abandonaste 


Nei Duclós

11 de agosto de 2023

O LUGAR DA PALAVRA

 Nei Duclós 


A palavra é o lugar onde ela se situa

Não pertence à ideia que dizem ser sua

Se for 'mundo' é nesse chão que se resume

E não o que combinamos no andar de cima


Somos executivos de sentidos

Batizamos as coisas mesmo à revelia

E queremos submissão e não rebeldia


Por isso inventaram os cavalos marinhos

Com estribos de sal e perfis de mulas

Flutuando acima das barrigas

Para invocar os cientistas com seus relinchos

Provocando arranques de falsas borbulhas


Vê? São apenas subterfúgios

A palavra é livre como alguém que cai de costas

Para inaugurar o abismo


Nei Duclós

9 de agosto de 2023

MARCAS

 Nei Duclós 


Não encostei um dedo

Mesmo perto de ti

Não abusei nem me escondi

Mas nosso olhar cometeu o crime


E nem precisei confessar amor

Era óbvio que eu te pertencia


Sentir é pior que tocar

Deixa marcas profundas

Que não desaparecem

Jamais


Tua pele é  um coração ao sol

Por isso morro na praia 

Onde não estás


Nei Duclós


PARCEIRO DA LUA

 Nei Duclós 


Faz tempo

Eu era magro e tinha todos os dentes

Mas não dava importância

Eu queria viver o que diziam no rádio

Os jogos nos estádios

As manifestações 

Os espetáculos as viagens


Achava tudo natural

A toda hora saía para a rua

Pegava um ônibus

Viajava de carona


Eu era contemporâneo das nuvens 

Morava no imaginário das grandes paisagens

Percorria o país dos crepúsculos

Parceiro da lua, amante da poesia

Andava aos andrajos e sentava no chão da sala


Eu era insuportável 

Como um pássaro migrante que voava aos bandos

Pelo mundo impenetrável daquele tempo


Nunca tive dinheiro

Nunca me faltou um poema


Nei Duclós 



6 de agosto de 2023

SESSAO DE CINEMA

 Nei Duclós 


Sou romântico de filme antigo

Em que a estrela não chama tanta atenção 

E o cara não nota no primeiro instante

Depois se mata no amor tardio


Ele fica procurando o que já encontrou

Alheio à sorte de ser escolhido

Pela beldade de blusa e vestido

Comprados em ocultas lojas do subúrbio 

De olhar perdido de anônima doçura 


No fim da história é Ano Novo

E todos cantam bêbados em coro

Enquanto o cara enfim acorda

E sai correndo para dizer te amo


O sentimento custa a entender o embrulho

Precisa de um roteiro feito no capricho 

E um desfecho em noite festiva

Que a câmara mostra em cena colorida


Estou no papel do sujeito indeciso

A pedir tua mão, a noiva mais bonita

Por ti repicam todos os sinos

E um letreiro diz fim quando é o início

De uma vida nova de dias felizes

Que o filme não mostra mas o choro é livre


Emocionada pegas do meu braço 

E um beijo estala na sessão da tarde


Nei Duclós

CONCHA

Nei Duclós 


Todo dia você vem sorver açúcar 

Que eu distribuo deste acervo de amarguras

Como clássico cavaleiro da Triste Figura

Que exerce no deserto sua má conduta 

Fazendo galanteios do amor em ruinas


Mas ficas feliz e isso conta

Recolho-me à solidão, quarto de sombras

Escrevo para amanhã ter futuro

E não viver para si na mesma concha


Nei Duclós

EL DUENDE

 Nei Duclós 


No tengo duende para poner palabras en tu corazón

No soy poeta soy plantador


No tengo duende en la piedra cultivo

 un mar de flor 

Soy tu amor


No tengo duende para cantarte coplas

De inspiración

Soy mercador 


No tengo mas do que sentimiento

Y no talento

De cantador


Mire a mi que nada soy

Pero te quiero

Sin el duende

Soy solo un hombre sincero

Contigo soy


Nei Duclós

DIÁLOGO

 Nei Duclós 


Não escutas o que eu ainda não disse

E pedes para eu repetir

Mas não encontro as palavras que busco

Contestadas ainda por nascer


Não é mais um diálogo de surdos

É uma oposição por puro prazer

O que? me dizes

Enquanto permaneço mudo


Nei Duclós

31 de julho de 2023

EL PUENTE Y LA CUEVA

 Nei Duclós 


En el puente donde trabajas

Con tus flores para bodas

Paso yo, enamorado

Lejos de tus ojos y abrazos


Voy a la cueva del monte

Alla cultivo rosales

Soy jardinero morocho

Con esperanza muy rara


Quiero casarme contigo

Para que no sea tarde

Dar-te palavras de oro

Para un futuro milagre


Es muy poco, es como aire 

Pero tengo manos dulces

En mi vida tan amarga


Diga que si , mi serrana

Que en el puente trabaja

Las rosas que yo cultivo

Son de una cueva sagrada


Nei Duclós

HORIZONTE

 Nei Duclós 


Um pouco de amor distribuo ao redor

Há quem aceite na bela manhã de sol

Água corrente que nunca para de ser

Vida contente diante do azul do céu 


Pássaros vencem a distância maior

De um outro continente

Viajam sem espanto

Pelo gosto de viajar

Pousam na minha frente

Quando o poema se faz 


És inocente ao repartir tua voz

Dizem solenes os mandarins do poder 

Singelo, me acusam sem dó 


Mal sabem que o poema simples

Da pompa é o mais distante

De estar sempre por cima 

Dando as cartas sobre a mesa 

A que decreta duros mandamentos


Vestir o sonho numa esplêndida estação 

É obra de um espadachim

Venha te mostro o que está fora de mim

Esse horizonte feito de um só  coração 

Que a Deus pertence

Mas que é nosso treinamento

Para a vida eterna deste único monento


Nei Duclós

MILAGRE

 Nei Duclós 


Mulher é o milagre

Não busquem outros exemplos

Não por atender teus desejos 

Mas pela sua têmpera 

Plena de glória efêmera 

Força da Criação extrema


Rainha de um trono trêmulo 

Suspira quando convence 

Grita ao mover a espécie 

Chora para ensinar as pedras


Fugitiva de qualquer poema

Não se enreda em elogios de festa

Reage no excesso de vento

Ama quando ninguém está vendo


Mulher, nunca se rende

Noiva de quem a surpreende

Dança conforme a lenda

Passa, no lugar de sempre


Nei Duclós