24 de novembro de 2011

DIÁLOGOS IMPOSSÍVEIS


Nei Duclós

E onde pomos o coração? disse o sujeito da mudança. Deixa na calçada, alguém há de levar. Ela não deu falta, mesmo

Já passa da hora, disse o guarda noturno. Te manda. Só mais uns minutos, disse o Sonho. Alguém deve passar por aqui e me dar uma carona

Sei que não vais abrir a porta,disse o Remorso.Mas deixo o que colhi nesta noite inglória:a dor de te perder e o cheiro do teu corpo molhado

A criação parou? perguntou o anjo.Estão faltando asas nas pessoas. Horário de almoço, disse Deus.Depois, sesta.Talvez não acabe esse serviço

Agora está de bom tamanho, disse a patriarca. Deixaste tudo para voltar a este fim de mundo. Ele ainda mora lá? perguntou a filha pródiga

Vamos fechar a biblioteca, disse a veterana. Só falta a última página, quando ela volta, diz o garoto. A sra vai querer que eu morra?

Não temos vaga para o sr, disse o consultor. Mas vocês precisam de cartas de boas vindas, disse o missivista profissional. Faço pela comida

Conseguimos zerar o sentimento, disse o diretor corporativo. Ela foi mandada embora? perguntou o presidente, aos prantos

Seu texto está muito bom, mas peca pelo excesso,disse o publisher.Não serve para nossa página de editoriais.Vamos colocar no correio amoroso


RETORNO - Imagem desta edição: Lamplighter, obra de Bob Barker.

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