12 de novembro de 2011

RECONCILIAÇÃO


Nei Duclós

Decida-se pela paz dentro de você
não apenas com imagens no espelho
ou com todos os avatares fake
Reconcilie-se com seu presente
deixe o passado no ermo
e aperte a mão de quem não é idêntico

Some a dor acumulada e livre-se
instaurando a saúde da recompensa
Coloque sua cabeça a prêmio
e faça um evento onde você discursa
para uma platéia configurada no amor
Distribua o abraço a esmo

E não permita que interfiram no movimento
que venham roubar seu dinheiro
que sequestrem o voto, que comprem
famílias, que invadam casas,
que coloquem freios nas almas
Não recue diante da violência

Tente compor esse comportamento
você solidário com o país sem esperança
e ao mesmo tempo firme no leme da força
Batize a mocidade na ante-sala do espanto
e habite o espírito de quem chega tarde
Está com você o encargo dessa dança

Não se entregue às pretensões, mas à mudança
palmilhe o canto que foi sufocado no exílio
desate o nó que amarra a vivência
componha a linguagem que se contrapõe ao ruído
e avance apenas com o corpo escasso
o trêmulo andar, as pétalas ao vento

Como poderemos, perguntarão, vencer
contando apenas com a poesia e o sonho?
Não apenas isso, dirá a reconciliação
mas os frutos de jardins abandonados
e o lixo que vamos recolher das ruas
transformado numa constelação de rumos

Importa que diga sim ao convite que faço
armado apenas da vontade de resgatar
o que perdemos para sempre
Somos um navio que recuperou o impulso
e com velas a pleno nos dirigimos
ao cais onde enfim seremos de novo uma nação

E não se renda ao aparelhamento
partidário ou religioso do que pactamos aqui
Os sectários que cumpram seu destino
e permaneçam à parte. Pois nós, proprietários
do nosso coração, temos algo maior a cumprir
antes que decretem para hoje o fim dos tempos


RETORNO - Imagem desta edição: foto de Cartier-Bresson

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